Um grupo de médicos do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar TondelaViseu (CHTV) estudou o impacto e a influência da Diabetes Mellitus (uma doença que se estima afetar mais de 2 milhões de pessoas em Portugal) em doentes com COVID19. Segundo o estudo os valores mais altos de glicémia (concentração de glicose no
sangue) à entrada no serviço de urgência parecem estar associados a estados inflamatórios mais graves e por isso maior gravidade na infeção pelo novo coronavírus. Os doentes diabéticos estudados apresentavam ainda assim um bom controlo da sua doença de base, o que pode justificar a ausência de diferenças significativas na gravidade e mortalidade entre os grupos estudados (diabéticos e não diabéticos). Ainda assim, este estudo reforça a necessidade de um bom controlo da diabetes, minimizando assim o risco acrescido associado a estes doentes crónicos. Esta
pandemia criou um novo paradigma totalmente desconhecido aos hospitais, mas principalmente aos serviços de Medicina Interna, tratando-se de uma doença que nos surpreende diariamente, nos obriga a novos desafios e nos indica o longo caminho de aprendizagem a percorrer.
Um estudo retrospetivo levado a cabo por médicos do CHTV procurou esclarecer o impacto da Diabetes Mellitus em doentes com COVID-19 que recorreram à urgência daquele Centro Hospitalar e que tiveram necessidade de internamento.
No estudo foram incluídos 89 doentes, 38,2% mulheres e 61,8% homens com idade média de 73,23 anos internados por infeção COVID-19 durante a primeira vaga pandémica de março a maio de 2020. Cerca de 30% dos doentes eram diabéticos e, segundo Rui Marques, médico internista autor principal do artigo publicado recentemente na Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, “os doentes apresentavam um relativo bom controlo da sua diabetes o que nos pode ajudar a justificar que não se tenha verificado uma maior mortalidade neste grupo”.
Ainda assim os autores salientam que os valores de glicose no sangue mais elevados, na admissão, estavam correlacionados com quadros clínicos mais graves.
Para Inês Fróis e Daniel Aparício, médicos internos de formação específica em Medicina Interna no CHTV, os achados do estudo vêm mostrar a importância de “seguir de perto os doentes crónicos” e, nomeadamente no caso concreto da Diabetes Mellitus, “procurar manter um bom controlo dos doentes, para que assim possamos minimizar o risco acrescido que atribuímos a esta doença”.
Neste trabalho colaboraram também Andreia Lopes e Inês Bagnari, médicas que se encontram a realizar o seu ano de formação geral e que destacam que a prática clínica hospitalar deve também ser suportada pela investigação e pela contribuição científica.
O artigo completo pode ser consultado em:
https://www.spmi.pt/revista/vol27/vol27_n3_2020_236_240.pdf