Natureza serve de cenário à peça “A Gaivota” de Tchékhov que se estreia em Viseu

Espaços naturais arborizados vão servir de cenário a uma adaptação da peça “A Gaivota”, de Anton Tchékhov, que tem estreia marcada para setembro, na Quinta da Cruz, em Viseu.

Apaixonada por Anton Tchékhov, a atriz e encenadora Sónia Barbosa, que dirige a associação artística Ritual de Domingo, fez a adaptação dramatúrgica da peça, influenciada pela ideia do ‘site specific’, ou seja, de levar o teatro a espaços não convencionais.

“Nos últimos anos temos, na Ritual e nas nossas criações, começado a olhar para esta relação com a natureza”, afirmou a diretora artística, durante uma conferência de imprensa ao ar livre, no local onde decorrerá o espetáculo.

No seu entender, esta opção teve não só a ver com o facto de viverem em Viseu, em contacto constante com a natureza, mas também com questões como as alterações climáticas, a sustentabilidade e os incêndios florestais de 2017.

“Tudo isso tem vindo a preocupar-nos e a aproximar-nos de uma tentativa de olhar para a natureza como uma fonte de inspiração e de relação, numa tentativa de deixarmos de estar de costas voltadas para a natureza”, justificou.

Neste âmbito, “A Gaivota” passará por várias quintas: depois da quinta de Viseu, onde será apresentada entre 08 e 11 de setembro, seguirá para outras, em Carregal do Sal (18 de setembro) e Lapa do Lobo (24 de setembro).

No seu entender, as temáticas abordadas por Tchékhov – considerado um revolucionário da linguagem teatral, que marcou a transformação ocorrida no teatro entre o século XIX e o século XX – mantêm-se atuais.

Segundo Sónia Barbosa, Tchékhov era “um humanista e um ambientalista”. Com “A Gaivota”, a Ritual de Domingo propõe um espetáculo em que a arte, a natureza, o território e a poética de Tchékhov se cruzam numa visão contemporânea deste clássico da dramaturgia.

A associação artística teve a preocupação de envolver as comunidades de cada local na parte da composição musical, que está a cargo de Ana Bento.

Sónia Barbosa lembrou que na obra de Tchékhov está muito presente “a sensação de uma classe aristocrática em decadência e que está de costas voltadas para uma enorme massa de camponeses, o povo”.

“Encontrámos uma forma de trazer essa presença usando o canto tradicional”, avançou, acrescentando que, em Viseu, o espetáculo contará com a participação do rancho da Associação Folclórica, Cultural e Recreativa Verde Gaio de Lourosa.

A diretora artística frisou que outra preocupação foi desenvolver o contexto pedagógico a par da criação artística e, por isso, já decorreu uma oficina sobre os temas de “A Gaivota”.

O produtor executivo do espetáculo, Cristóvão Cunha, disse aos jornalistas que “A Gaivota” se trata de “uma produção, em termos de logística, bastante exigente”, mas que promete “uma certa magia”, com “cenografia sempre em mudança”, em interação com o ambiente arborizado à noite.

“Haverá 60 e tal paletes distribuídas por este espaço. Não vai haver nenhuma estrutura física. Elas (as paletes) vão ser manipuladas pelos intérpretes e vai haver música ao vivo”, interpretada por Ana Bento e Olívia Pinto, adiantou.

António Barbosa, Joana Martins, João Miguel Mota, Rodrigo Santos e a própria Sónia Barbosa serão os intérpretes da peça.

A equipa do espetáculo é constituída por pessoas que vivem em Viseu e fora, considerando Sónia Barbosa ser “muito importante manter uma relação com o território nacional, não só ao nível da criação, mas também da digressão”.

“Estamos a conseguir criar uma dinâmica forte localmente, mas que também tem a sua projeção a nível nacional”, referiu.

A vereadora da Cultura da Câmara de Viseu, Leonor Barata, considerou que a Ritual de Domingo é um dos exemplos de como é importante a autarquia apoiar os artistas, através do programa Eixo Cultura, permitindo “que os projetos cresçam”.

Além da vertente financeira, Leonor Barata frisou que os equipamentos municipais, como a Quinta da Cruz, existem “para serem usados ao máximo, transformados”, e sublinhou que a comunidade artística tem “um papel muito forte” a mostrar que “há sempre maneiras menos evidentes de tornar este mundo melhor”.

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