Cidade-Jardim. Estava receoso que o epíteto fosse apenas um chavão promocional mas, caramba, Viseu faz por merecê-lo. Em que cidade incrível Viseu se transformou! O comércio tradicional modernizou-se sem se descaracterizar, os jardins e espaços verdes estão por todo o lado, para usufruto de todos, a arte urbana invadiu muros e paredes, e até museus como o Museu do Linho me surpreenderam. A verdade é que não falta o que fazer em Viseu, especialmente no seu centro histórico.
“A atribuição do epíteto de Cidade-Jardim a Viseu não é de agora. Entre os anos 20 e 30 do século XX, diversos executivos municipais promoveram melhoramentos a nível dos espaços públicos da cidade. As autênticas manchas florestais constituídas pelo Parque do Fontelo e pela Cava de Viriato conjugavam-se com os diversos jardins (alguns de criação recente) e com o crescente número de árvores rodeando as novas artérias urbanas. Os guias turísticos dos anos 40 do século XX e os relatos dos viajantes que demandavam a cidade por essa altura já faziam eco dessa fama de cidade-jardim.”
in, site oficial Visit Viseu
Não foi a primeira vez que visitei Viseu, obviamente; mas há muito tempo que não o fazia com o atento olhar de viajante. E o que descobri, em apenas dois dias, foi um exemplo vivo de como tradição e desenvolvimento podem caminhar de mãos dadas, sem se atropelarem. Não é seguramente a cidade perfeita (existe alguma?), mas é uma daquelas cidades onde o viajante se sente imediatamente bem, com o tamanho certo e uma boa energia no ar.
Assim, partilho um pouco da minha experiência a visitar Viseu, com referências às principais atrações turísticas que visitei, incluindo jardins e espaços verdes, ruas pejadas de comércio tradicional, museus e até bons restaurantes. Eis, pois, o que fazer em Viseu numa estadia de dois ou três dias. Vamos a isso.
- 1 O que fazer em Viseu (a minha experiência)
- 1.1 Sé Catedral de Viseu
- 1.2 Praça D. Duarte
- 1.3 Porta do Soar e Muralha Afonsina
- 1.4 Jardim das Mães
- 1.5 Museu de Almeida Moreira
- 1.6 Praça da República (Rossio) e painel de azulejos de Joaquim Lopes
- 1.7 Parque Aquilino Ribeiro
- 1.8 Rua Direita
- 1.9 Museu de História da Cidade
- 1.10 Obra de Bordallo II (roteiro de arte urbana)
- 1.11 Quinta da Cruz
- 1.12 Visitar o Parque do Fontelo
- 1.13 Museu do Linho de Várzea de Calde
- 1.14 Ecopista do Dão
- 1.15 Provar um viriato na Confeitaria Amaral
- 2 Mapa com o que fazer em Viseu
- 3 Outras coisas a fazer em Viseu
- 4 Vídeo sobre Viseu Cidade-Jardim
O que fazer em Viseu (a minha experiência)
Antes de mais, convém dizer que duas das coisas mais prazeirosas de Viseu são explorar sem rumo o seu centro histórico e usufruir dos múltiplos espaços verdes da cidade. Sem grandes planos.
Dito isto, a verdade é que, de igrejas a jardins, passando por praças e museus, há alguns locais emblemáticos que vale a pena tentar incluir neste roteiro imperfeito para uma escapadinha a Viseu.
Sé Catedral de Viseu
A Catedral de Santa Maria de Viseu, mais conhecida como Sé de Viseu (ou Sé Catedral de Viseu), foi edificada no início do século XII num dos pontos mais altos da cidade.
Vale a pena apreciar o claustro renascentista, a nave central e até a sacristia “maneirista”, forrada a azulejo e com “o teto, em gamela, pintado a brutesco”. Mas também subir ao primeiro piso e entrar na antiga Sala Capitular, onde é hoje possível visitar um museu dedicado ao Tesouro da Sé.
Não menos importante, as vistas a partir da loggia, com a Praça D. Duarte de um lado e o adro da Sé do outro, são para mim imperdíveis. Uma excelente forma de começar um dia de visita a Viseu.
Praça D. Duarte
Paredes-meias com a Sé Catedral, a Praça D. Duarte – assim batizada em honra do rei português natural de Viseu – é, na minha opinião, uma das praças mais bonitas do centro histórico de Viseu. Tem vindo a sofrer uma requalificação urbana, rivalizando hoje em dia com a Rua Direita pelo título de epicentro da zona antiga da cidade. Ou pelo menos assim me pareceu.
Além da sua fotogenia, a praça é também o lugar perfeito para um copo de final de tarde numa das várias esplanadas ali instaladas. Fica a sugestão.
Porta do Soar e Muralha Afonsina
Não muito longe da Praça D. Duarte fica o Largo Pintor Gata e a adjacente Porta do Soar, uma das mais imponentes entradas no burgo medieval de Viseu. A ladear a porta, com um sumptuoso arco de ogiva quebrada encimado por uma pedra de armas, ainda se conseguem observar resquícios da chamada Muralha Afonsina de Viseu. É lá que está atualmente instalado o hotel Montebelo Palácio dos Melos.
No Largo Pintor Gata, onde outrora se realizava o mercado semanal, fica a pequena Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em cujo interior há painéis de azulejos que vale a pena espreitar. Do outro lado da porta fica a Rua Nunes de Carvalho, ao fundo da qual o visitante curioso chegará ao Rossio, uma zona da cidade onde não faltam motivos a incluir nesta lista com o que fazer em Viseu. Ora veja.
Jardim das Mães
Colado ao Rossio fica o Largo Major Teles, onde me chamou a atenção um pequeno jardim pejado de amores-perfeitos, rosas e outras flores multicores. Sem surpresa, numa urbe que se auto-intitula de Cidade-Jardim, o Jardim das Mães (há uma escultura em bronze retratando um menino a dormir no colo da sua mãe) não é, felizmente, caso único.
Assim o viajante tenha paciência para saborear os prazeres contemplativos que as plantas reclamam, vale a pena prestar atenção ao jardim; nem que seja, pelo menos, atravessando-o em direção ao Museu de Almeida Moreira. Seguimos viagem?
Museu de Almeida Moreira
Manda a verdade dizer que visitar o Museu de Almeida Moreira não me pareceu absolutamente fundamental para o comum dos turistas. Mas, num dia de chuva ou tendo tempo e não sabendo o que fazer em Viseu, nada perde em conhecer um pouco melhor a vida e obra de alguém considerado como um dos mais marcantes viseenses do século XX. Nem que seja apenas pelos azulejos do terraço e das escadas de aceso ao mesmo…
Praça da República (Rossio) e painel de azulejos de Joaquim Lopes
Uma das mais emblemáticas obras de arte da cidade de Viseu está na Praça da República, mais conhecida como Rossio, e não passa despercebida ao viajante. Trata-se de um enorme painel de azulejos da autoria do pintor portuense Joaquim Lopes, criado em 1930, que “retrata o tempo em que o campo vinha à cidade comercializar os seus produtos, passear os seus trajes, dar vida às ruas”.
Nas palavras do município, é “uma das mais marcantes e notáveis criações de arte pública em mural azulejar do seu período e, simultaneamente, um património que testemunha um momento histórico da reforma urbanística e estética de Viseu cidade moderna”. Para ver com atenção.
Parque Aquilino Ribeiro
Confesso que já tinha visitado Viseu, passado múltiplas vezes junto à Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco (mais conhecida como Igreja dos Terceiros) e nunca tinha prestado a devida atenção ao parque arborizado que pinta de verde as suas traseiras. Uma falha imperdoável, claro está.
A primeira coisa que me chamou a atenção naquele pulmão urbano foi um casal de gaios a recolher pequenos galhos para o seu ninho. Não é um exclusivo do Parque Aquilino Ribeiro – há muitas aves em Viseu, e isso só pode ser um bom sinal! -, mas a dimensão da mancha verde torna-o um refúgio de tranquilidade em pleno coração da cidade. E depois o lago, as árvores, o cafezinho com esplanada, os frades nos seus afazeres, as pessoas a usufruirem do espaço para passear ou fazer desporto.
É, por assim dizer, o pulmão de Viseu.
Rua Direita
Tida como a principal artéria comercial de Viseu, a Rua Direita é ponto de passagem obrigatória em qualquer passeio pelo centro histórico da cidade. Apesar de ter visto algumas lojas vazias – porventura fruto das dificuldades com que o comércio tradicional se debate! -, a verdade é que o pequeno comércio continua a ser o foco desta rua pedonal que atravessa o coração de Viseu. Ourivesarias, sapateiros, retrosarias, lojas de roupa e até alguns cafés e pastelarias, de tudo um pouco se encontra na Rua Direita.
A rua decalca praticamente na íntegra a milenar via romana que atravessava no sentido sul-norte a cidade de Viseu.
Museu de História da Cidade
É precisamente na Rua Direita que fica o Museu de História da Cidade, projeto museológico que tem como missão “valorizar e promover a história da cidade de Viseu, contribuindo ainda para a sua investigação e salvaguarda”. Pareceu-me uma bem conseguida e interessante “viagem pelos 2.500 anos de história de Viseu”, pelo que recomendo a visita.
Obra de Bordallo II (roteiro de arte urbana)
Tal como algumas outras cidades portuguesas de média dimensão, Viseu aposta na street art como forma de valorização urbana e atração de visitantes. Dava, aliás, para fazer um interessantíssimo roteiro apenas focado na arte urbana de Viseu, incluindo as obras de artistas como AKA Corleone, BASIK, Bordallo II, Draw, Mário Belém, Mesk e Tamara Alves, entre muitos outros.
Ora, sendo eu um apaixonado pelo trabalho de Artur Bordalo, mais conhecido como Bordalo II, decidi ir ver uma obra de sua autoria, intitulada Barbary baby and mom monkey (da sua série de trabalhos Big Trash Animals), que embeleza a parede de uma habitação junto aos limites da Cava de Viriato. Não fica no centro histórico como o mural de Draw; mas é, na minha opinião, muito mais interessante!
Quinta da Cruz
Situada nas margens do rio Pavia, nos arredores de Viseu, a extensa área verde da antiga Quinta da Cruz foi convertida num moderno centro de arte contemporânea de acesso livre.
Está integrada na Rede Municipal de Museus de Viseu e, aos meus olhos, pareceu-me um espaço museológico com algumas semelhanças conceptuais com Serralves, no Porto. Não faltam, aliás, as obras de arte contemporânea espalhadas pelos seus vastos jardins – que, diga-se, integram a lista da Associação Portuguesa dos Jardins Históricos. A visitar.
Visitar o Parque do Fontelo
Diz o município de Viseu que “ao entrar no Jardim Renascentista do Antigo Paço Episcopal (Fontelo) regressamos ao século XVI, quando muitos jardins eram projetados para celebrar o domínio do Homem sobre a Natureza”. É, para mim, um dos ex-líbris desta “Cidade-Jardim” apostada na arte de bem-estar.
Em Fontelo, não faltam árvores, ar puro e trilhos para caminhadas. E, tanto viseenses como visitantes parecem apreciar o espaço verde, tido como o mais exótico e exuberante jardim de Viseu. Não por acaso, muitas pessoas me recomendaram a visita ao Parque do Fontelo, mas a sugestão tinha um objetivo bem definido: “tens de ir ver os pavões”. E tinham razão.
No meu Instagram, escrevi o seguinte: “Já vi muitos pavões em parques urbanos, mas creio que nunca tinha ficado a observar o seu comportamento de forma tão prolongada como fiz agora na Mata do Fontelo, em Viseu – cidade que, qual cauda de pavão, me parece cada vez mais bonita e vibrante. É impossível ficar indiferente a este espetáculo…”
Museu do Linho de Várzea de Calde
Uma das boas surpresas da minha viagem foi a aldeia de Várzea de Calde, localizada a uma dúzia de quilómetros de Viseu. É lá que fica o Museu do Linho de Várzea de Calde, um museu etnográfico instalado num edifício de arquitetura popular e que visa a salvaguarda da tradição do linho e da lavoura tradicional da região. Recomendo vivamente.
Ecopista do Dão
Para os amantes de um turismo ativo, fazer parte da Ecopista do Dão, a pé ou de bicicleta, é outra das atividades a fazer em Viseu. A ciclovia liga Santa Comba Dão a Viseu e tem um total de 49 km de extensão; mas, como é natural, não precisa de a fazer na totalidade. Um bom local para começar, caso não queira fazê-lo na malha urbana de Viseu, é este ponto exato, a partir do qual pode caminhar até à Ponte de Mosteirinho. É uma das secções mais bonitas da Ecopista do Dão nos arredores de Viseu.
Provar um viriato na Confeitaria Amaral
Se há elementos distintivos da gastronomia viseense, incluindo da sua doçaria, o doce viriato é seguramente um dos mais icónicos. Confecionado com ingredientes aparentemente simples, como farinha, ovos, margarina, açúcar e coco ralado, os viriatos são absolutamente deliciosos. Fica a sugestão para quem visitar Viseu.
Outras coisas a fazer em Viseu
Além das atrações referenciadas no artigo (e no mapa), eis algumas coisas que acabei por não fazer ou não visitar em Viseu e arredores – seja por falta de tempo ou pelas condições climatéricas muito adversas do segundo dia. Tendo oportunidade, considere também:
- Fazer o percurso pedestre de Ribafeita;
- Visitar o Museu Grão Vasco, onde se exibem algumas obras-primas da pintura renascentista portuguesa;
- Observar a Igreja da Misericórdia e o seu magnífico órgão de tubos;
- Visitar o Museu do Quartzo, localizado numa antiga mina a 6 km da cidade de Viseu, e onde se explica a importância mineralógica, geológica e comercial do quartzo.
- Conhecer a Cava de Viriato.
Vídeo sobre Viseu Cidade-Jardim
Caso esteja interessado em sentir um pouco mais da alma viseense, eis um vídeo inspirador da autoria da Teresa Pacheco Miranda e produzido durante esta viagem. Vale a pena ver.