É notória nesta última informação da Senhora Presidente, à
Assembleia, a opção por dois andamentos na escrita. Um primeiro,
de cunho pessoal, intimista e genuinamente sentimental, que
apreciei. E um segundo, onde assume por inteiro, em nome do
Executivo, todos os sofismas, slogans e embustes oficiais deste
mandato.
Para iniciar o segundo andamento, socorre-se a Senhora
Presidente dos últimos Censos, e do registo de subida de 419
habitantes, 0,4%, no Concelho, para incensar a estratégia de
desenvolvimento económico, adotada pelo Executivo. Informa-nos,
que nestes 4 anos, os mais de 250 milhões de euros investidos
pelas empresas, fixaram no concelho mais 3.500 novos
trabalhadores, sendo que desses, 850 eram engenheiros da área
das novas tecnologias. Das duas três: ou as contas do Executivo
estão “marteladas”, ou os Censos não encontraram estes novos
habitantes, ou, tendo encontrado, perderam-se outros milhares de
empregos nas “velhas profissões”.
É um facto. O investimento privado nas novas tecnologias e na
saúde, fez o Executivo esquecer-se de inscrever nas suas
preocupações, a reclamação de investimento para a construção do
Matadouro Público de Viseu. Como consequência directa, como os
Censos também mostram, a agricultura familiar do concelho, perdeu
centenas de postos de trabalho, diminuiu a população nas nossas
aldeias, desapareceram dos campos e dos registos milhares de
cabeças de gado e consequentemente as famílias rurais perderam
milhões de euros de rendimento.
No rol de esquecimentos e omissões na dita estratégia de
desenvolvimento do Executivo, também se pode acrescentar a
ligação ferroviária à cidade, a abolição das portagens e a ligação do
IP3 a Coimbra, em perfil de auto-estrada.
O ridículo da frase, o “Farol do Interior do País é Viseu”,
consubstancia lapidarmente o delírio propagandístico municipal e a
vacuidade dos conceitos. Faz até lembrar determinada fraseologia
de algumas seitas religiosas.
É como a evocação permanente do galardão de “Melhor Cidade
para Viver”. Tudo não passa de um mero slogan propagandístico,
inserido numa estratégia mediática. A avaliação encomendada pelo
município a quem cá não vive, não resiste ao simples teste de uma
visita nocturna ao Centro Histórico, num fim de semana.
Outra habilidade que prova a obsessão do Executivo pelos números
e a estatística, tem a ver com a mistificação dos dados do INE, para
justificar um pírrico lugar cimeiro no indicador de públicos em
espectáculos ao vivo. E podemos saber a que ano se referem as
estatísticas? E o que diz o INE, sobre os públicos em sala, Senhora
Presidente? E como está distribuída pelo INE a distribuição dos
espectáculos e dos espectadores pelos meses do ano? Como se
compreende, o Executivo mete tudo no mesmo saco, para fazer
crer que há muitos espectáculos ao vivo e com muito público,
quando na realidade o que foi “medido” pelo INE, foi a informação
dada pelo executivo, relativa aos milhares de pessoas que assistem
às Cavalhadas de Vildemoinhos e de Teivas e sobre a frequência
da Feira de S. Mateus, em Agosto e Setembro.
Regozijo, manifesta também a Senhora Presidente, pelas “12 mil
pessoas que praticam algum tipo de actividade física” no concelho.
12% da população. Significa que os outros 88%, são sedentários e
inactivos? Dos 8 milhões de euros investidos no “ Programa de
Gestão, Construção e Reabilitação das Instalações Desportivas e
Espaços Promotores de Actividade Física”, uf! não sobrou nada,
para construir a inexistente Piscina Olímpica, que tanta falta faz aos
nossos valorosos nadadores, para evoluírem nas suas marcas, e ao
concelho, para possibilitar a realização de eventos que requeiram
este tipo de equipamento?
Os “triângulos virtuosos”, de que fala a propaganda municipal, de
tão fustigados pela realidade, que sacode a demagogia e a falácia,
estão a ficar obtusos, a fugir para o “quadrado”. Esta dos “rankings”
do sucesso escolar dos alunos do ensino secundário e do 3º ciclo
do Concelho, então, é a cereja no topo do bolo. Pode explicar-nos o
que é que a Câmara tem a ver com o ensino secundário e com o 3º
ciclo, para chamar a si os méritos do sucesso dos alunos? Que eu
saiba, até agora, a Câmara não tem qualquer responsabilidade
pedagógica ou de gestão. Se há sucesso, o mérito é todo das
escolas, dos professores e dos funcionários e muito pouco ou nada,
da Câmara. Se o Executivo queria protagonismo, era inscrever a
necessidade da Universidade Pública no concelho e de uma
Faculdade de Medicina, alicerçadas no ensino superior já existente.
Mas essas bandeiras, não se vislumbram em nenhum dos vértices
do triângulo virtuoso da educação municipal.
Imaginem, que até o aumento do poder de compra no concelho é
mérito exclusivo da Câmara e dos empresários e investidores. Os
que trabalham e criam a riqueza, auferindo, na maioria dos casos
remunerações de miséria, como o salário mínimo, para permitirem o
acumular de riqueza dos patrões, esses não merecem qualquer
referência elogiosa por parte do Executivo.
Fala-se do investimento no Ambiente e na Sustentabilidade, nos
miríficos 20 milhões de euros de investimento por ano nas
freguesias (a maioria dos senhores presidentes de Junta não se
importava que fosse um terço) mas nunca mais ouvimos falar do
famigerado projecto dos “Novos Povoadores”. Nem do
aproveitamento de recursos naturais potenciadores de
desenvolvimento real das zonas mais deprimidas do Concelho,
como é o caso da Mata Municipal de Vale de Cavalos, em Côta. Um
Executivo com vistas largas e realmente preocupado com o
desenvolvimento sustentado do Concelho e o bem-estar da
população rural, já teria criado neste magnífico espaço natural um
Parque de Campismo e Caravanismo, Piscinas de Água Corrente,
uma Quinta Pedagógica de Espécies Vegetais e Animais, etc.
Como é óbvio, teriam de cuidar em simultâneo da melhoria
significativa das acessibilidades do século passado, a toda esta
zona.
No que respeita à habitação, Sr.ª Presidente, creio que os
problemas não se limitam aos carenciados abrangidos por medidas
viradas para a habitação social. É preciso ir mais longe, investir
numa política social para a habitação que resolva os graves
problemas de habitação que temos e que não temos visto
concretizada.
Duas notas finais. Dei-me ao trabalho de somar todas as verbas
que o Executivo diz ter investido nos diferentes projectos nos
últimos 7 anos e cheguei à conclusão, de que o volume de
investimento propalado, ultrapassa em muitos milhões, as
execuções orçamentais que aqui aprovámos, neste período. A outra
nota, é do mesmo cariz. Há 3 anos a taxa anunciada pelo
Executivo, de cobertura de água no Concelho era de 99%, e a taxa
de cobertura de saneamento, de 98%. Será que não se fez mais
nada, nesta área, nos últimos três anos, ou tendo-se feito, por
esquecimento, não se actualizaram as percentagens, para 100 ou
101%, por exemplo?
Viseu, 10 de Outubro de 2021
A Eleita da CDU na Assembleia Municipal de Viseu