Este grupo de octogenários rockeiros de Viseu iniciaram a sua carreira em 2014 a propósito do convite que a dupla Madalena Vitorino e Giacomo Scalisi fizeram a Ana Bento para desenvolver um projecto no âmbito do Festival Viseu A do Teatro Viriato. Foi nesse contexto que a ideia surgiu a partir da inspiração nos Young@Heart, mais propriamente a partir de um vídeo deste insólito grupo americano que um amigo de Ana Bento lhe tinha enviado há uns anos atrás com a mensagem ‘Ó Ana, olha aqui nós quando formos velhos!’.
A ideia de criar um grupo local com maiores de 60 anos com o objectivo de reinterpretar temas do cancioneiro rock português foi logo acolhida com expectativa e também não houve hesitações quanto à restante equipa, fundamental para pôr o projecto de pé: o Ricardo Augusto no apoio aos ensaios semanais e outros músicos da Gira Sol Azul para o acompanhamento (banda) nos concertos ao vivo. As linhas gerais estavam traçadas e foi assim que Ana Bento e Ricardo Augusto começaram por ir a lares e centros de dia da cidade lançarem o desafio a pessoas ‘mais velhas’, os tais maiores de 60 anos.
Ana Bento conta que quando deram conta tinham em mãos um grupo com uma média de idades à volta dos 80 e tal anos e foi ali, logo no primeiro ensaio, que perceberam o tamanho gigante do desafio a que se tinham proposto e que que tinham proposto àquelas pessoas. E perceberam também que neste grupo a idade, a percentagem de analfabetismo e de mobilidade reduzida era tão grande quanto a generosidade destas pessoas ao se lançarem nesta aventura e tão grande quanto ‘a vontade de continuar a fruir o prazer, com todos, de uma vida que sempre se foi construindo, nem sempre com o mesmo prazer, mas com esses mesmos todos’ –citando João Luís Oliva, um dos elementos que muita força deu a esta (A) voz (do rock). ‘Percebemos também que o tempo passa, passa tão rápido que quando damos conta podemos estar a ser ‘arrumadinhos’ durante o dia num sofá mais ou menos confortável em frente a uma TV (sintonizada todos os dias no mesmo canal com um programa de fácil entretenimento) e a partir do fim de tarde a ser ‘arrumadinhos’ numa cama limpa de um quarto qualquer´, refere Ana Bento. E é por isso que estes avós se vêem no direito de desafiarem o estereótipo da idade, de poderem envelhecer e simultaneamente “optar pelo que faz o coração vibrar” (Osho). O rock é assim a opção destes avós, o rock e suas canções que geralmente não se fazem ouvir em vozes de pessoas tão velhas.
E foi assim, que desde o primeiro ensaio, uma vontade se tornou realidade e um compromisso ‘para a vida’. Entretanto, rapidamente, quer amigos mas também desconhecidos com quem se têm cruzado na rua, vizinhos tímidos ou amigos dos amigos, começaram a ser convidados e integrados no grupo que está em constante regeneração.
Os A VOZ DO ROCK rompem assim fronteiras entre gerações e excedem os limites da própria condição humana apresentando uma imagem positiva do envelhecimento que se traduz numa performance que, acima de tudo, celebra o prazer da partilha musical e da própria vida. No final de 2019 o grupo realizou um concerto especial de tributo a Xutos e Pontapés com o próprio Kalú como convidado e foi ainda distinguido com o prémio Boas Práticas de Envelhecimento Activo e Saudável da Região Centro.
Nesta lógica de constante desafio os A VOZ DO ROCK celebram agora o 6º. aniversário com um concerto onde partilham o palco com os convidados especiais, crianças e jovens que participaram na oficina ‘O Rock também é nosso’ que decorreu na Fundação Lapa do Lobo.
O concerto acontece este domingo, 26 de Janeiro pelas 16h no Auditório Mirita Casimiro em Viseu.
O concerto acontece este domingo, 26 de Janeiro pelas 16h no Auditório Mirita Casimiro em Viseu.