Artista israelita usa pintura e teatro para falar em palco em Tondela sobre família

A artista israelita Michal Svironi estreia hoje em Portugal o espetáculo “Carte blanche”, uma peça onde a pintura e a arte cénica dão a mão em palco para abordarem as relações familiares e as heranças emocionais.

“Carta branca”, em tradução livre, é um espetáculo de teatro em que a pintura faz parte da peça e “não existe um sem o outro, partilham o protagonismo” em palco, defendeu a artista e criadora, em entrevista à agência Lusa.

“Se quero comunicar com o meu público, então crio imagens que [as pessoas] possam seguir e, assim, mesmo que não explique tudo, palavra por palavra, o público entende através da pintura”, defendeu Michal Svironi.

A artista israelita deslocou-se a Portugal, diretamente de Paris, onde estava quando o Hamas lançou o ataque sobre Israel, no dia 07 de outubro.

A apresentação em Portugal surgiu de um convite por parte da Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT), para participar na 29.ª edição do Festival Internacional de Teatro (FINTA), que decorre até sábado.

A ideia deste espetáculo, que já percorreu vários países na Europa e é apresentado hoje, pela primeira vez, em Portugal, surgiu de uma ideia que a artista transporta “desde criança”, quando os “pais pediam sempre para escolher” entre uma ou outra coisa.

Sendo “apenas uma criança e sem muito por onde escolher,” assumiu que encontrou “alguma paz de espírito no teatro de marionetas”, já que descobriu que nessa arte podia usar as suas “habilidades plásticas” e as suas mãos.

Durante “muito tempo foi bom”, mas “ainda sentia a necessidade de mais”, já que, apesar de “não ter nada contra”, para Michal Svironi “não era suficiente” e também, enquanto espectadora, “nem sempre ouvia o que os artistas diziam em palco”.

“Mas via sempre o que faziam. E havia imagens fortes. E temos várias memórias para coisas que são simples. É uma linguagem mais universal, funciona em qualquer língua e é muito importante que as pessoas se lembrem do que viram e do que sentiram” durante o espetáculo, realçou.

A criação desta peça durou dois anos, “muito também por causa da pandemia” de covid-19, apesar de assumir que sente que passou “toda a vida à procura” da sua linguagem e da forma de contar histórias, neste caso, uma história inspirada na sua.

A propósito de um diário que recebeu dos pais e que “não transmitia emoções suficientes, era tudo muito funcional e nada pessoal”, decidiu que “não podia continuar assim na vida, nem como mãe, nem como filha”.

“Um dia eles vão morrer e que será então? E pensei porque é que sou assim? Porque é que eles são assim? O que é que eles receberam dos pais deles?”, questionou-se, levando-a a pesquisar a ascendência.

Uma procura que a levou a perceber que há “um problema com separações de pessoas mortas”, nomeadamente das que “há memória e a história não é muito longa, porque muitas morreram de forma trágica no Holocausto”.

“Não foi uma morte de forma natural, foi uma catástrofe e não tivemos muita oportunidade para nos despedirmos, para aceitarmos a morte e isso é o início da história: como nos separarmos de uma boa maneira”, desvendou.

Michal Svironi contou que quando leva a filha à creche e se separa dela “é horrível” e disse que a sensação é de que parece que sente que está “a morrer”, tal como para com a filha, “parece que ela está a morrer”.

“Algo está errado! E começou assim. São três gerações, ou até mais, e é sobre as relações entre elas e como é que podemos mudar isso, se é que podemos. É como começar de uma página em branco, mas a questão é essa e a resposta é óbvia: não podemos, evidentemente”, concluiu.

Perante isto e a questão do que é que se pode fazer e Michal Svironi defendeu que “é possível mudar o que se tem, virar as páginas com melhores cores, com outras cores, mas isso é só o início”.

“Porque quando criamos começamos num ponto e depois vamos para outro e depois temos de deixar ir. Temos de largar para ser terapêutico e transferir, transformar, para algo que não é só teu e que está a mudar outra vez”, disse.

Quando aconteceu o “terrível massacre” em Israel, o seu país natal, em 07 de outubro, estava em Paris, França, e, em palco, sentiu “que o espetáculo também estava a mudar todos os dias”, apesar de a história ser “sempre a mesma”.

“Tenho pontos onde improviso, mas o chão é escrito, muito preparado. Apesar de criar todas as pinturas, quase tudo é criado em frente ao público, por isso só preparo o material”, adiantou.

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