Ucraniano confessou ter matado russo à facada em Viseu em 2002

Um ucraniano acusado de ter matado um russo à facada numa casa de Viseu onde viviam cidadãos da Europa do Leste, em 2002, confessou hoje ter cometido o crime, mas argumentou que só pretendia empurrá-lo para o afastar.

“Ele estava em cima de mim. Eu já segurava a faca e comecei a empurrá-lo para o afastar”, contou Sergiy Uvarov, que hoje esteve acompanhado em tribunal por uma tradutora de origem ucraniana e nacionalidade portuguesa.

Perante um tribunal de júri (constituído por três juízes do coletivo, quatro cidadãos efetivos e quatro suplentes), Sergiy Uvarov assumiu desde início que iria fazer uma confissão, mas não integral.

Sergiy Uvarov está acusado de um crime de homicídio, de que foi vítima o russo David Iliutchenko, apontado como elo de ligação entre máfias de imigração ilegal. Está também acusado de dois crimes de homicídio na forma tentada, por alegadamente ter ferido os ucranianos Valeriy Bigvava e Igor Garcucha.

A versão de Sergiy distancia-se da apresentada na acusação sobretudo no que diz respeito à forma como ocorreram os factos da tarde de 05 de maio de 2002, numa casa situada em Santiago, no concelho de Viseu.

Segundo a acusação, o arguido apareceu num quarto com uma faca de mato na mão, que apontou em direção a todos os presentes. Ao mesmo tempo, “em tom muito alterado e intimidativo”, perguntou quem lhe tinha furtado o telemóvel e, “de imediato”, espetou a faca no tórax de David, que estava junto à porta.

Em tribunal, visivelmente emocionado, Sergiy Uvarov explicou que se dirigiu a esse quarto depois de se ter apercebido que espancaram o seu amigo Boris Nikandrov, que encontrou “a tremer e com medo”, e que procurava o telemóvel para pedir ajuda.

No dia anterior, David Iliutchenko tinha dado indicações para que ele, Boris Nikandrov e Roman Lysenko esperassem numa paragem de autocarro por uma pessoa de uma empresa de construção que lhes iria dar trabalho e alojamento, contou.

Como não aparecia ninguém, ele e Boris telefonaram para David, que inicialmente lhes ia dizendo para esperarem e depois desligou o telemóvel. Os três acabaram por passar a noite junto ao cemitério, “sem dinheiro, sem água e sem comida”, e só na manhã seguinte conseguiram regressar a casa de autocarro, acrescentou.

Segundo Sergiy, Boris terá sido espancado porque confrontou David com o facto de eles os três lhe terem pago dinheiro para ele lhes arranjar trabalho e não ter cumprido o acordado.

Sergiy, que na altura tinha 24 anos, disse que pagou 300 euros a “uma agência turística” da Ucrânia e depois mais 480 euros a David, que seria a pessoa encarregada de resolver “todas as questões” em Portugal. Do dinheiro que trouxe para Portugal, ficou apenas com cerca de 50 euros.

Além deles os três, haveria mais pessoas nessa situação, porque “chegaram mais duas a discutir” com David pelos mesmos motivos, considerou.

Ao aperceber-se de que “estava sozinho e que Boris precisava de ajuda”, andou à procura do seu telemóvel e, não o encontrando, deslocou-se para o quarto de onde saiam sons de conversa e se encontrava David com outros homens.

O arguido contou que, quando perguntou pelo telemóvel, David levantou-se de repente da cama em que estava sentado, mostrou-se desagradado pela forma como ele se lhe dirigiu e bateu-lhe. Um dos outros homens atirou o seu telemóvel para outra cama, na qual estava uma faca, que ele agarrou com a intenção de se proteger.

“O David queria debruçar-se por cima de mim de maneira a derrubar-me”, afirmou, acrescentando que foi quando o tentava afastar que o esfaqueou.

A justiça portuguesa só conseguiu localizar Sergiy Uvarov 20 anos depois, quando este fugia da guerra na Ucrânia. O arguido tem estado detido no Estabelecimento Prisional de Viseu.

O seu advogado, Elísio Oliveira, alertou que houve seis pessoas que na altura prestaram declarações para memória futura que não estarão presentes durante o julgamento, pelo que o depoimento do arguido é essencial para apurar a verdade.

“A única versão ao vivo que o tribunal vai ouvir é esta”, frisou o advogado, acrescentando que “a justiça pode tardar, mas não deve faltar”, em respeito pela dor dos familiares da vítima.

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