Rui Reininho lança álbum em nome próprio, um “milagre” que não é despedida

O músico Rui Reininho publiou, na sexta-feira, “20.000 Éguas Submarinas”, o primeiro disco em nome próprio desde 2008, um “milagre”, como o definiu, que não é “um opus de despedida, mas de continuação”.

Em entrevista à agência Lusa, o músico do Porto, conhecido por liderar os GNR, não vê este novo disco como um esforço a solo, porque, “se fosse, demorava seis ou sete anos”, em vez dos três que levou, mas antes como “uma colaboração muito forte” com Paulo Borges, coprodutor e “o grande instrumentista no meio disto”.

“A minha parte limitou-se às percussões e vocalizações. Claro, o conceito foi meu, falei com ele, mas tive um colaborador muito paciente, porque tenho consciência, ao fim destes anos, que sou cada vez mais uma pessoa muito limitada em termos do que gostaria de fazer em termos de música. Uns são bons executantes, outros são bons compositores, outros são bons poetas e outros são apenas uns impostores. No meio disso tudo, tentei encontrar a minha ‘persona’”, reflete.

Sendo certo que é “um disco um pouco excêntrico”, prefere olhá-lo não como música experimental, ou “avant garde”, nem como a ‘sua’ praia, o pop rock, mas antes como “uma miscelânea”.

“É a minha cabeça. Desde os anos 1970, começa a funcionar nesta sintonia”, assegura.

O mar é uma “preocupação e proximidade de sempre” no trabalho do cantor, que lembra o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke (1917-2008), e a ideia de que “descobrir o espaço é uma inutilidade, porque está tudo cá em baixo por descobrir”.

“De onde viemos, de onde saímos, protozoários, anfíbios, e ‘gajas’ em ‘topless’”, brinca.

Há também uma ligação ao Oriente, o espaço habitual do pop rock e uma ideia, que vai reforçando, de felicidade e de “prova de vida”, uma expressão que uma amiga lhe passou ao comentar o álbum.

No meio de uma crise mundial, devido à covid-19, Reininho considera que “a responsabilidade ainda é maior”, pela “maneira como se toca as pessoas”, e isso também aumentou a necessidade de o disco sair.

“Estávamos ali mesmo atravancados, e pareceu-me necessário pôr esta voz cá fora antes que ela se canse”, comenta.

Mesmo com “orçamentos muito caseiros”, o disco, lançado pela Turbina, explora os vários campos de influência do cantor, do lado experimental ao tema do mar, do pop rock ao trabalho de muitos anos com Jacomina Kistemaker, que visita regularmente na Galiza desde 2002.

“Tem sido para mim uma mentora, que me auxiliou em termos da voz. Fui lá para abrir a minha tessitura. Fui lá mostrar-lhe o disco e ela disse ‘‘que bonito, estes ‘Animais Errantes’ [título do ‘single’ de apresentação], estes jovens, o fazer as pessoas felizes, um a um, pouco a pouco’’. Acaba por ser importante e reflete-se na Humanidade”, conta.

Assume a voz e a percussão, além dos gongos, porque não se vê como “um mau ‘gonguista’” ao fim de 18 anos de aprendizagem, e tem aqui uma oportunidade de tentar “apagar da cabeça uma palavra que é confinamento”.

“Para mim é um milagre vê-las [as 20 mil éguas submarinas] a sobrevoar, quais carneirinhos no mar. Neste momento, sou uma pessoa muito feliz. Não é um opus de despedida, mas de continuação”, resume.

Para isso, tem já alinhados vários dos “oito a 10 momentos” de apresentação do álbum, começando no Festival Aleste, no Funchal, em 26 de junho, seguindo-se passagens pelos Jardins Efémeros, em Viseu, mas também pela Culturgest, em Lisboa, o GNRation, em Braga, e a Feira do Livro do Porto.

Além de Reininho e Borges, que trabalhou piano, sintetizadores, programações e guitarras, o disco conta com participações de vários outros intérpretes, de Alexandre Soares, dos Três Tristes Tigres, a Pedro Joia, Tiago Maia, Daniel Salomé e a própria Jacomina Kistemaker.

Foi gravado entre 2018 e 2020, na LastStep Studio, em Almada, e o trabalho de vídeo que acompanha “Animais Errantes”, mas também, algures em breve, a faixa final, “… The Sea…”, é de Mimi Sá Coutinho.

A realizadora trabalhou em conjunto com o músico e com “as pessoas” do Espaço T – Associação para o Apoio à Integração Social e Comunitária, no Porto.

“O trabalho intergeracional é uma felicidade muito grande, e, para mim, é uma sorte. Não há nada por detrás. Não vivemos ao pé da capital dos subsídios, onde sei que é muito mais fácil bater à porta, ir jantar, conhecer as pessoas. É para mostrar que também se fazem coisas sem transcendências, só com desejo, amor e alegria”, comenta.

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