A associação Binaural, que lidera o projeto Rede Tramontana III, congratulou-se hoje com a atribuição do Prémio Europa Nostra 2020, que vem “dar força” ao trabalho de permanência dos vários parceiros em territórios rurais.
“É uma parceria muito longa, que já começou em 2012. São muitos anos a trabalhar juntos na valorização dos territórios rurais, que são um bocadinhos esquecidos em termos de discurso europeu”, disse à agência Lusa Luís Costa, da Binaural – Associação Cultural de Nodar.
O projeto Rede Tramontana III, apoiado pelo programa Europa Criativa, em 2017, foi distinguido na categoria Investigação, ao lado de um projeto da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, sobre património sírio, e da plataforma digital papiro de Turim (“Tpop”), de Itália.
Audiolab (Espanha), Nosauts de Bigòrra, Numériculture Gascogne e Eth Ostau Comengés (os três de França), Bambun e Associazione LEM-Italia (Itália) e Akademia Profil (Polónia), são os parceiros da Binaural, que atua desde 2004 na região portuguesa de Viseu Dão Lafões.
Luís Costa disse à Lusa que já havia a noção de que o projeto era “um candidato forte” ao prémio, porque se dedica exclusivamente ao mundo rural e é o terceiro com os mesmos parceiros.
Segundo o responsável, tem havido uma “filosofia de trabalho permanente no território, com ateliers, residências, recolhas, criações artísticas em muitas aldeias e contacto permanente porta a porta, conhecendo as pessoas individualmente”.
“Este tipo de filosofia permanente é o fator mais importante”, frisou, acrescentando que tem sido desenvolvida “em estreita parceria com os municípios”.
As ações da Binaural no âmbito deste projeto europeu centraram-se em quatro concelhos da região de Viseu Dão Lafões: Viseu, Vouzela, Castro Daire e São Pedro do Sul, nos quais foram desenvolvidas dezenas de iniciativas.
O Prémio Europa Nostra surge numa altura em que a associação está a trabalhar sem financiamento da Direção-Geral das Artes.
“Foi um choque bastante grande [não receber o apoio]. Neste momento, vamos conseguindo sobreviver com outro tipo de financiamentos. Há pessoas que ainda não percebem exatamente o que é nosso trabalho, talvez este prémio possa ajudar a que isso possa acontecer de forma mais profunda”, afirmou.
O júri considerou que o projeto liderado pela Binaural “promove a ideia de identidade europeia e, especificamente, do património imaterial de comunidades rurais e de montanha, que é comum a toda a Europa”.
“É um excelente exemplo de cooperação internacional entre investigadores com experiência em diversas áreas de estudo. A metodologia usada no projeto é replicável noutros contextos europeus e tem potencial para ser aplicada em todo o continente”, acrescentou.
Segundo a Binaural, “a Rede Tramontana III é um projeto integrado de investigação e valorização criativa do património imaterial de comunidades rurais e de montanha europeias, visando salvaguardar e revitalizar esse património através da sua documentação e ampla divulgação”.
O projeto resulta de uma parceria entre oito parceiros principais, oriundos de cinco países diferentes – França, Itália, Polónia, Portugal e Espanha, com mais de 50 entidades associadas – e beneficiou do apoio do programa Europa Criativa da União Europeia, que financiou 60% do mesmo, sendo a parte restante coberta pelos parceiros.
A Binaural atua nas áreas do acolhimento e produção de criações em artes sonoras e media, da documentação etnográfica audiovisual, da educação sonora, da criação para rádio e da produção editorial.
O seu modelo de intervenção assenta “numa atuação simultânea num plano intensamente local, promovendo um conceito de laboratório permanente de mediação social, junto com comunidades rurais e, num contexto global, com atividades desenvolvidas com artistas contemporâneos, museus, universidades e organizações culturais nacionais e internacionais”.