Manhouce, em São Pedro do Sul, quer retratar usos e costumes num ecomuseu

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O presidente da Junta de Freguesia de Manhouce quer retratar os usos e costumes da aldeia num ecomuseu e, para isso, apresentou uma candidatura para apoiar o investimento no projeto, estimado em cerca de 500 mil euros.

“Vamos querer retratar os usos e costumes de Manhouce em vários pontos da aldeia. Onde houve a exploração do minério, a agricultura, o leite, o tear, ou seja, vamos fazer um circuito por vários pontos onde estão retratadas as vivências, usos e costumes da aldeia”, disse à agência Lusa o presidente da Junta daquela freguesia do concelho de São Pedro do Sul (distrito de Viseu), Carlos Laranjeira.

“Já foi submetida ao Turismo de Portugal uma candidatura” para apoiar o “investimento que andará entre os 400 e os 500 mil euros” e que “gostaria muito de ver concluído” antes de terminar este terceiro e último mandato, adiantou o autarca.

“Já temos terreno e várias casinhas para implementar o projeto e onde as pessoas podem fazer o tal circuito e até fazer uma experiência de comodato, sem custos de renda, sem nada, só para viverem e sentirem o trabalho e costumes da altura”, sublinhou.

Entre os vários costumes, o autarca destacou “a manteiga de Manhouce, um dos ex-líbris” da aldeia, “que os turistas poderão provar ou mesmo sentarem-se num tear e trabalharem o linho, porque a ideia não é só retratar é dar a experimentar” os usos.

Carlos Laranjeira frisou que visitam a localidade “muitos turistas das termas a Manhouce” e, também por isso, há “muita urgência em abrir este museu, para ser mais um ponto de atração e dar a conhecer melhor a terra, que tem tanta história e continua a atrair as pessoas, até pelos seus cantares e pela Isabel Silvestre”.

A cantora é, aliás, “uma das maiores dadoras do espólio” que fará parte do Ecomuseu, a par de outro, que “está fechado nas gavetas de vários cidadãos” e que, “todo reunido e bem organizado será como um retrato da história” da população.

“Tenho lá tanta coisa, porque foi uma vida inteira que eu levei a procurar as nossas raízes, à procura de mim e de todos nós, do nosso património, e eu tenho tanta coisa!”, disse à agência Lusa Isabel Silvestre.

“Desde trajes, fotografias de 1938 até agora, objetos, livros, muitos livros, linhos a rendas, [tenho] muita coisa, que agora vai ser catalogada e devidamente registada para organizar no museu”, enumerou a cantora.

“Por exemplo, a primeira desnatadeira que houve em Manhouce foi em nossa casa e tenho-a lá, portanto, a ideia é dar vida e atribuir o valor que os objetos têm para os dar a conhecer, principalmente aos mais novos”, especificou.

Isabel Silvestre destacou que Manhouce “tem muita história, não é uma aldeia qualquer, porque estava ligada, pela Estrada Romana, a Porto e Viseu e era o último descanso para quem vinha do Porto” até chegar à cidade de Viriato.

“Quando os almocreves vinham carregados do Porto, porque faziam as trocas do vinho do Dão pelo sal, os tecidos pelo arroz e a sardinha, era ali que pernoitavam e sempre houve uma troca de saberes e de cultura muito grande com as gentes do mar”, contou.

Esta é uma das razões que, no seu entender, fazem a história de Manhouce ser “muito complexa e muito completa”, mas como “ainda está tudo um bocadinho no ar, apesar de já haver muita coisa registada, com este museu tudo isso ficaria bem organizado e registado”, realçou.

A concretização deste projeto também é “urgente” para o presidente da Câmara Municipal de São Pedro do Sul, Vítor Figueiredo, que apelou, esta quinta-feira, ao Turismo de Portugal e à secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Rita Marques, para darem “atenção à candidatura do Ecomuseu” de Manhouce.