O coletivo Amarelo Silvestre estreia, na sexta-feira, a mais recente criação, “Corpo Título”, que nasce da vontade de refletir sobre o corpo hoje e convida o público a participar.
“Há uns dois anos senti uma vontade de refletir sobre o meu próprio corpo enquanto performer, enquanto mulher e com mais de 50 anos, nesta questão de nos expormos e de partilharmos o espaço artístico”, disse a diretora artística da companhia, Rafaela Santos.
A encenadora disse que começou por se questionar “sobre o que representa essa partilha hoje” e “o que leva a sentir a necessidade de valorização do agora, juntamente com o público”.
“As nossas produções da Amarelo Silvestre sempre foram muito neste sentido, de um novo olhar sobre as coisas, e por que não sobre o corpo, e sobre a tentativa de fazer tocar e de provocar, de refletir sobre e de novas perspetivas”, justificou.
No início, Rafaela Santos juntou dois bailarinos, Hélio Santos e Tiago Santos Peres, e, depois de “várias formações” e residências artísticas, que começaram em outubro, juntou-se, em janeiro, a companhia de dança Dançando com a Diferença.
Assim, na estreia, esta sexta-feira no Teatro Viriato em Viseu, estão agora mais nove elementos: Cati Cardoso, Cuca Capelle Calheiros, Fernando Vieira, Helena Oliveira, Inês Oliveira, Luísa Vaz, Mel Mendes, Natália Fonseca e Orlando Vicente.
“Tem sido uma mais-valia enorme e uma aventura, porque alargou imenso esta reflexão sobre o corpo. Partiu do meu para um espetro muito mais alargado, de corpos diferentes, de grande diversidade, com muitos olhares e histórias para contar”, assumiu Rafaela Santos.
Nos excertos apresentados hoje à comunicação social de o “Corpo Título”, os 12 elementos deram vida ao corpo e “a outros equipamentos, que são extensão do próprio corpo”, como disse a bailarina Cuca Capelle Calheiros.
O espetáculo “também conta a história de cada um” e também essa história “acaba em palco, porque a arte também é feita da história muito pessoal” de cada um dos elementos que participam.
“Cada um de nós leva a sua história para o palco. Há a anatomia do próprio corpo que é inerente à história de cada um, ao movimento, ao estar e a toda a nossa ocupação e partilha de espaço”, acrescentou Rafaela Santos.
“Para nós também tem sido muito bom e rico, por esta sensação de estarmos em palco, a podermos mostrar a nossa arte, porque todos os corpos valem para fazer arte, todos os corpos dançam e todos os corpos podem estar”, defendeu Cuca Capelle Calheiros.
“Corpo meu, corpo teu, corpo nosso” ouve-se em cena, enquanto corpos, ou partes de corpos estão espalhados no quadrado que serve de palco, no próprio palco do Teatro Viriato, onde, no início o público se mistura, antes de assistir “à libertação do corpo”.
Ou seja, “há um convite expresso à circulação” por parte do público e “à medida que o espetáculo avança é que aparecem as cadeiras para quem se quiser sentar”, explicou Rafaela Santos.
O espetáculo, que conta com excertos de textos relacionados com o corpo, tem movimento e música, como que uma discoteca.
“Esse lugar onde nos tornamos quase anónimos, por causa da confusão, dos movimentos, em que quase perdemos a identidade e ficamos só com o corpo e com a vontade de mergulharmos num outro ambiente”, apontou Rafaela Santos.
Um lugar em que a dança se torna “do prazer e da resistência, porque ainda pode crescer mais, porque o corpo se liberta” e o intuito, reconheceu Rafaela Santos, é que “seja um momento de libertação”.