Taxista nega intenção de ferir ou matar bombeiros em Vale de Madeiros, Nelas

O taxista acusado de ter disparado contra operacionais em Vale de Madeiros, Nelas, negou hoje que tivesse intenção de os ferir ou matar, justificando que apenas queria impedir que o incêndio que provocou numa antiga serralharia fosse apagado.

O homem de 64 anos, que está acusado de 12 crimes – entre os quais quatro de homicídio qualificado agravados, na forma tentada, e um de homicídio simples agravado, na forma tentada – começou hoje de manhã a ser julgado no Tribunal de Viseu e decidiu prestar declarações.

“Não me passou pela cabeça tirar a vida a alguém”, afirmou ao coletivo de juízes, acrescentando que, atendendo à proximidade a que estava das pessoas e ao “campo de visão aberto”, se quisesse, conseguiria matá-las.

O arguido admitiu que, na tarde de 16 de fevereiro de 2022, disparou tiros de caçadeira colocando o cano para fora junto à base inferior de dois postigos da adega subterrânea onde estava e que pretendia atingir “o murete (muro baixo), nunca as pessoas”.

Quando se encontrava no primeiro postigo, estaria a cerca de sete metros delas e, no segundo, “a três metros, no máximo”, contou.

No que respeita aos tiros contra dois bombeiros que estavam com a agulheta a apagar as chamas, explicou que “estava a disparar para a água”, com o objetivo de os levar a desistirem, para que as chamas destruíssem os bens, como tinha planeado.

Um bombeiro foi baleado numa perna, outro no abdómen e um terceiro num antebraço. Também um militar da GNR que estava a fazer um cordão de segurança para impedir a aproximação de pessoas ao local foi atingido numa coxa e uma popular ficou ferida na cara.

O homem sublinhou que, “mesmo estando descompensado”, nunca foi sua intenção matar alguém e fez questão de informar o coletivo de juízes de que vários membros da sua família pertenceram aos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim e que ele próprio reconstruiu o edifício da corporação.

A lista de crimes inclui ainda um de incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas, um de detenção de arma proibida, um de resistência e coação sobre funcionário agravado e quatro de coação agravados.

Apesar de confirmar praticamente todos os factos da acusação referentes à forma como planeou o incêndio e as explosões na estrutura anexa à sua habitação, que usava como garagem, oficina e serralharia, negou ser uma pessoa violenta.

Contou que várias situações, como “visitas à casa” e o “desaparecimento de coisas”, o levaram a “um estado de desalinho completo”, em que “nem sabia o que andava a fazer” e que, por isso, decidiu pegar fogo aos seus bens “e não deixar ninguém apagar” as chamas.

“Hoje não o teria feito”, afirmou.

Os factos ocorreram dias depois de o arguido ter sido notificado de que, às 15:00 de 16 de fevereiro, um agente de execução se deslocaria ao imóvel que foi construindo ao longo dos anos, no decurso do seu casamento, e que tinha estruturas para habitação e anexos, nomeadamente a dependência contígua utilizada para garagem, oficina e serralharia e a adega.

A acusação referiu que o arguido queria “não só impedir que o agente de execução levasse a cabo a diligência de tomada de posse dos bens, mas também, e sobretudo, que os mesmos fossem vendidos e que o valor da venda revertesse, pelo menos em parte, para a sua ex-mulher”.

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