Culmina na Universidade de Aveiro, o programa das comemorações dos 100 anos da obra “Terras do Demo” de Aquilino Ribeiro, cujo primeiro momento evocativo aconteceu no dia 11 de maio, em Soutosa, Moimenta da Beira. O encerramento acontecerá com a exposição “Aquilino no Campus de Santiago”, que será inaugurada ontem, dia 14 de junho na sala Hélène de Beauvoir da Biblioteca da Universidade de Aveiro. A mostra é organizada por Maria Eugénia Pereira, do Grupo “Entregéneros: Literatura e Hibridismo”, e por Paulo Neto, diretor da revista “Aquilino”. Todo o programa comemorativo nasceu e foi traçado por um conjunto de instituições aquilinianas, tendo à cabeça as autarquias das Terras do Demo: Moimenta da Beira, Sernancelhe e Vila Nova de Paiva, que presidem, rotativamente, ao Conselho de Administração da Fundação Aquilino Ribeiro.
Sobre a Exposição
Aquilino Ribeiro foi um prolífico escritor do século XX, com uma obra que abrangeu o conto, a novela, o romance, o teatro, a literatura infanto-juvenil, não deixando de lado a história, a crítica literária, a etnografia e o jornalismo. Toda a sua vida (1885-1963) se pautou pela coerência ideológica e pela coesão em torno dos ideais fraternos, libertários e democráticos. Enquanto republicano ativo, foi perseguido e preso pela Monarquia. Enquanto “reviralhista”, foi perseguido e preso pela Ditadura Militar e pelo Estado Novo. Sofreu as agruras da prisão e três exílios em França. Mesmo enquanto candidato a Prémio Nobel, já no final da sua vida, foi constituído arguido por invocadas ofensas à Justiça e à polícia política (PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado) alegadamente contidas no livro Quando os Lobos Uivam, imediatamente proibido pelo órgão oficial de censura.
Autor de uma vasta obra, iniciada em 1913 com o Jardim das Tormentas, e concluída em 1963, ano da sua morte, com Um Escritor Confessa-se, que só sai do prelo após o 25 de Abril de 1974. O vitalismo da sua obra, o desprendimento em relação a movimentos estético-literários, a riqueza lexical e a variedade temática, não o anacronizando, têm feito dele um autor perene, lido, recorrentemente procurado por estudiosos que nele continuam a encontrar um inesgotável manancial de motivos de interesse e material para artigos e teses de mestrado e doutoramento.
O acervo aqui exposto congrega toda a obra literária de Aquilino. De alguns títulos, apresentam-se diferentes edições, algumas de bibliográfico. Certas obras são portadoras de dedicatória manuscrita. Também se podem admirar treze edições publicadas em diversas línguas e a revista literária que Aquilino criou e dirigiu, Camiliana & Vária, assim como as suas primaciais traduções de II Santo, de Antonio Fogazzaro, e L’Anarchie, de Jean Grave.
Medalhas, convites, curiosidades sobre eventos, mormente o da trasladação para o Panteão Nacional, banda desenhada, discursos, DVD, entre outros elementos e objetos, constituem uma amostra do muito que há para conhecer sobre Aquilino Ribeiro. No tocante à vastíssima bibliografia passiva, selecionou-se uma pequena parte de um vasto conjunto produzido pelos autores mais significativos do panorama literário e crítico português e estrangeiro. Expõem-se ainda algumas das revistas literárias nas quais Aquilino colaborou, como, por exemplo, a Atlântida, a Contemporânea e a Seara Nova, entre outras.
Sobre Paulo Neto
Antes de se dedicar mais assiduamente à obra e à vida de Aquilino Ribeiro, Paulo Neto foi quatro décadas professor de Português e Literatura Portuguesa. Se muito se tem falado de Aquilino Ribeiro nesta última década, isso deve-se em grande medida a este estudioso. Paulo Neto tem contribuído de forma notável para a leitura e o estudo da sua obra, fomentando e participando em exposições, no lançamento de reedições de livros e na organização de conferências e seminários. Paulo Neto é detentor de um vasto número de primeiras edições, de reedições ilustradas por dezenas de artistas plásticos, de substancial bibliografia passiva e de curiosidades várias neste contexto aquiliniano.
O seu desvelo tem ainda ido ao ponto de integrar no seu espólio as muitas obras alheias por Aquilino prefaciadas, desde o início da década de 20 até ao final de sua vida. Fruto do seu trabalho de investigação, existem plurais ensaios publicados. É ainda diretor da revista literária da Câmara Municipal de Sernancelhe, Aquilino, que criou, e editor da plataforma de comunicação social www.ruadireita.pt