O projecto MOITRAMOSTRA, que conta com mais de uma década de existência, galvaniza as raízes das terras férteis, compete com as melodias dos pássaros e cria vida na própria vida. Visa dinamizar o meio cultural português num conceito inovador e arrojado: arte no mundo rural. Jorge Humberto Carvalho, um dos responsáveis, contou-nos mais sobre esta ideia.
1 – Boa noite, Jorge. Congratulo-lhe, primeiramente, pela longevidade do vosso projecto. Qual o segredo para este êxito?
O segredo reside na equipa de pessoas que fazem parte da organização, que todos os anos têm como objectivo levar à aldeia da Moita mais uma MOITAMOSTRA, assim como os artistas que todos os anos procuram este Encontro D’Artes em Meio Rural. O público também tem sido uma peça importante na MOITAMOSTRA, pois todos os anos têm vindo a ser em maior número.
2 – O que é o MOITAMOSTRA?
É um encontro D’Artes em Meio Rural, que permite o encontro de artistas das mais variadas áreas de mostrar os seus trabalhos, cruzar o meio urbano com o meio rural e ainda uma forma de combate à desertificação do interior através da Arte
3 – A ruralidade é uma forma de arte. Neste conceito, arte e natureza andam de mãos dadas. Em que contexto surgiu esta ideia?
A ideia surgiu devido ao facto de eu ser da Moita e ter vivido a maior parte da minha vida em Lisboa, mas sempre com uma forte ligação ao meio rural, assim como outros elementos da organização.
4 – E o que vos motivou a dar vida à ideia?
A ideia surgiu quando um grupo de 12 amigos passaram um fim de semana na Moita e quase todos das diversas áreas artísticas, em que desenvolveram actividade no campo das Artes. Esse foi o nosso primeiro encontro de artistas no meio rural.
5 – Trata-se de uma inovação a nível nacional?
A forma como surgiu e se desenvolveu, acho que sim, no entanto já tive conhecimento de alguns eventos mais recentes com algumas semelhanças.
6 – Quais?
Os Bons Sons (mais ligado à música), por se realizar numa aldeia e ter o envolvimento das gentes da aldeia, O Altitudes (mais ligado ao teatro) em Campo Benfeito e o El Festivalino que se realiza em Espanha numa pequena aldeia da Estremadura.
7 – Quais as formas de expressão artística que compõem os eventos ao longo destes anos? Qual delas provoca maior afluência?
Música, Artes Plásticas, Teatro, Cinema, Dança, Literatura, Fotografia, Instalação, Performance, Vídeo, assim como os mais variados workshops das diversas áreas artísticas. É variável, mas no início notava-se que quando estavam envolvidas pessoas da região a afluência era maior. Agora já está mais esbatido e de ano para ano é mais variável.
8 – Gostaria de destacar alguns dos artistas envolvidos durante as várias edições?
Ana Nave, Filipe Crawford, Dinarte Branco, Ricardo Sá, Carlos Piecho, Bruno Simões, Francisco Salles, Galo Canta Ás duas, Trio tocar o Chão, Paulo Lima, Os improváveis, Luis de Portugal, Alberto D’Assunção, Rik Lina, Luis Morgadinho, Eduardo Nascimento, Anna Carvalho, Tiago Morais Morgado e muitos outros
9 – Considera que o reconhecimento que têm é directamente proporcional à vossa qualidade?
Acho que ainda não, mas o artista é um insatisfeito por natureza e a nossa comunidade é de artistas, logo sempre procuramos mais qualidade.
10 – A arte é, como sabe, olhada com alguma desconfiança. Apenas os ofícios convencionais parecem merecer admiração e respeito. Como avalia essa situação?
Não sinto que seja olhada com desconfiança, mas com alguma estranheza. Vivemos num país em que a Arte é pouco apoiada, sendo que o orçamento de estado não chega a 1% para o ministério da Cultura. Vamos continuar para que essa realidade seja invertida.
11 – O que aprendeu durante esta jornada?
Um sentimento de comunhão artística, de unidade, de respeito pela diversidade, a persistência e o acreditar que a Arte é uma ponte de valorização pessoal porque na Arte não existe o certo e o errado. A oportunidade de criação e fruição cultural.
12 – Foi um prazer trocar ideias consigo. Para terminar: o que é que os seguidores do MOITAMOSTRA podem esperar para as edições futuras?
Os seguidores podem esperar uma maior expansão com mais participantes, mais espaços de apresentação, mais público, mais parceiros envolvidos e contamos também que sejam possíveis mais apoios.