A candidatura do Bloco de Esquerda à Freguesia de Viseu escolheu o Bairro Municipal para a sua apresentação não só por ter na sua lista vários elementos com ligação ao bairro, seja por laços familiares, por ser moradora, ou por pertencerem a associações e movimentos que sempre estiveram na luta pela sua defesa, mas também por haver candidaturas com elementos que se empenharam na sua destruição. Para além disso, um dos problemas graves da freguesia é, precisamente, a habitação.
O Bairro Municipal de Viseu, depois de décadas de desleixo e falta de consideração pelos direitos dos moradores por parte da Câmara Municipal de Viseu (CMV), foi condenado à demolição pela insensibilidade social e cultural de Fernando Ruas que o considerava (considera?) “um desperdício de espaço numa zona “nobre” da cidade”.
Apesar da resistência da Associação de Moradores, Fernando Ruas, na altura presidente da CMV e novamente candidato, iniciou, em 2012, a demolição de duas fileiras de casas (uma delas desnecessária, pois era mais central) para a construção de um bloco de habitações, “o caixote”, para onde poucos antigos moradores aceitaram ir. A Associação Olho Vivo e o Movimento pelo Bairro requereram a classificação do Bairro e a Direcção-Geral do Património Cultural remeteu o seu parecer à Câmara, sugerindo a classificação como “monumento de interesse municipal”. O Bloco de Esquerda também defendeu na Assembleia Municipal a classificação do Bairro como Património de Interesse Municipal.
Almeida Henriques, entretanto eleito presidente do município, suspendeu a demolição e disse reabilitar as casas que sobreviveram. Mas a verdade é que só no final do segundo mandato iniciou a reabilitação que, não obstante todos os alertas e todas as nossas preocupações colocadas na Assembleia Municipal (nomeadamente, em relação à tipologia, metros quadrados, e desvirtuamento da função social e comunitária do bairro), está a decorrer de costas voltadas para os moradores, sendo uma reinterpretação do Bairro em vez da desejável e prometida reabilitação, dando primazia ao espaço público em detrimento das necessidades habitacionais, e dando prioridade a associações em vez de colocar as pessoas em primeiro lugar. O Bloco de Esquerda teme que se estejam a abrir portas para se tornar um bairro de classe média, subvertendo o carácter social do Bairro Municipal. A candidatura relembra que tudo isto aconteceu, e acontece, com a concordância do presidente da Junta de Freguesia de Viseu, e mais uma vez candidato pelo PSD, Diamantino Santos, que, como autarca da ex-freguesia de Coração de Jesus, se empenhou em defender as mais polémicas decisões de Fernando Ruas, como a de demolir o Bairro Municipal.