O presidente do secretariado regional de Viseu da União das Misericórdias contou ontem à agência Lusa que estão a proporcionar videochamadas entre os utentes dos lares e os familiares, uma vez que as visitas estão proibidas.
“Está 100% operacional numa grande maioria das Misericórdias do distrito de Viseu, mas não posso garantir que está em todas, mas várias têm esse dispositivo e essa ferramenta para videochamada, de modo a minimizar a distância das pessoas”, explicou José Tomás.
Este responsável, que é também provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, explicou à agência Lusa que havia Misericórdias, nomeadamente a que gere, com a aplicação num aparelho para os utentes e os familiares usarem.
“Mas, agora, perante a proibição das visitas para salvaguardar e combater a pandemia, alargámos o sistema e cada uma das instituições disponibilizou pelos canais próprios de comunicação o número, ou números, para o qual podem fazer a videochamada”, acrescentou.
José Tomás explicou que “é através de uma das várias aplicações simples que se usam no dia-a-dia”, como o Skype ou o WhatsApp, sendo este último o “mais utilizado por ser tão simples e ter boa qualidade de imagem”.
“Com poucos euros coloca-se isto a funcionar e percebe-se que a imagem hoje aproxima muito as pessoas por esta via e os utentes transmitem uma enorme felicidade quando lhes é colocado o ‘tablet’ para falar com o filho ou filha, que está há vários dias sem o visitar e vai continuar por várias semanas sem poder vir”, contou.
O provedor disse que “quando o utente pede para falar com o familiar, as colaboradoras também facilitam e fazem a videochamada”, até porque, no entender deste militar de carreira, “é preciso gerir muito bem as emoções das pessoas que estão privadas” das famílias, apesar de defender que “eles são uma grande família entre os utentes e os colaboradores”.
Ainda assim, o provedor diz saber, “por experiência, que uma semana não é o tempo suficiente para criar problemas”, tendo em conta que participou em duas missões militares – Bósnia e Kosovo.
Reconheceu, no entanto, que “vem aí o stress próprio com o passar do tempo” da privação que a pandemia covid-19 está a obrigar.
“Sei o que é que isto faz às pessoas ao fim de algum tempo deste isolamento, que são as tais alterações comportamentais, os desvios, os valores, a formação das pessoas, boa ou má, vem ao de cima e revelam-se características que até então não conhecíamos”, adiantou.
E, nesse sentido, defendeu que têm de ser os “dirigentes a saber gerir, com grande sensibilidade e bom senso, as emoções de todos, utentes e colaboradores, porque serão longas semanas a viver nestas circunstâncias”.
Rui Martins, filho de uma utente num lar em Viseu, contou à agência Lusa a importância da videochamada, porque “uma coisa é saber que está bem, mas outra totalmente diferente é olhar nos olhos e ver como ela está”.
“Isto não está a ser fácil, porque ia vê-la todos os dias e como a minha mãe já não fala as únicas informações que tenho são as que me passa a colaboradora com quem falo diariamente. Sem dúvida que a videochamada é uma mais-valia, para olhá-la nos olhos e ver se estão com boa saúde e o ânimo e, acima de tudo, ela poder ver-me”, contou.
Com 91 anos, a mãe de Rui Martins “não terá consciência do que se está a passar cá fora”, mas, segundo defendeu, “está consciente e deve sentir muito a ausência do filho e o porquê de não o ver como via”.