Se paira já no ar um certo sentimento de nostalgia com o fim da segunda edição do Planalto – Festival de Artes, há, por outro lado, uma sensação de enriquecimento que o diretor do evento, Luís André Sá, conseguiu proporcionar através de um programa coeso, de todos e para todos, num envolvimento entre pessoas, Natureza e arte feito de momentos inesquecíveis. Se os desafios são muitos e o futuro incerto, ficou vincada a ideia de que cada região pode, através dos seus recursos culturais, paisagísticos, humanos, preparar-se para os enfrentar.
Esta luta contra as adversidades, que são contínuas, implicam a transformação das paisagens e farão desaparecer no futuro certos meios de subsistência, como já acontece em algumas terras com o desaparecimento de olivais em Beja ou dos icónicos campos de trigo ao vento, junto ao Alqueva, outros tipos lhe darão lugar, sem que isso implique o fim de uma identidade cultural.
O território de afetos, termo que alguns especialistas da geografia recusam usar, por ser “escorregadio”, tornou-se evidente durante este festival. Os chamados “pontos de encontro” juntaram pessoas que não se viam e incentivou-as a conversar e a comentar espetáculos e eventos. A cultura une as pessoas, atrai visitantes, reforça a identidade de pertença e traz lucros. Daí que o professor catedrático da Universidade de Coimbra, João Maria André, tenha defendido que a “cultura tem de ser um investimento feito todo o ano”.
Ou que a diretora executiva das Aldeias Históricas de Portugal, Dalila Dias, tenha insistido no aproveitamento do potencial local, de forma única e sustentada. Sem copiar modelos. E o concelho de Moimenta da Beira tem esse potencial. Os moimentenses são orgulhosos das suas tradições e das suas raízes, não sofrem ainda do desfasamento identitário de que falou o doutorado em Geografia Humana, Álvaro Domingues, que acredita que vivemos em “sociedades líquidas” em que o conceito de “a minha terra” tende a desaparecer.
O Planalto – Festival das Artes veio reforçar a certeza de que ainda não chegamos aí. A visita à Serra de Leomil, a título de exemplo, levou mais de 50 pessoas, guiadas pelo arqueólogo José Carlos Santos, a ver os penedos exuberantes, a maior parte delas já conhecedoras daquela maravilhosa arte natural. E o arqueólogo, não sendo aquela a sua área, fez de guia com orgulho, pois os seus 20 anos de experiência a registar vestígios arqueológicos não o faz gostar menos de mostrar às pessoas o que é belo.
Luís André Soares trouxe eventos alternativos, estrambólicos, espantosos, promoveu a reflexão, defendeu o interior, a sua terra e com a sua equipa de técnicos e colaboradores, juntou-se às entidades, associações, população e deixou a sua mensagem: é possível! Sofia Dias e Vítor Roriz fecharam a noite de ontem com selo de ouro, com o espetáculo “Um Gesto que Não Passa de Uma Ameaça”, após o qual se seguiu uma conversa com a professora de Filosofia, Lucília Lourenço. Mais um sucesso. Para o mês que vem, a plantação de mil árvores. Agradecemos! Até para o ano, Planalto!
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