O projeto Creta vai continuar a “dialogar” com a comunidade criadora de Viseu, estando marcada, para novembro, a apresentação de dois espetáculos de teatro, anunciou ontem o seu coordenador, Guilherme Gomes.
“Invocação ao meu corpo” e “Sem Mordaça” são os espetáculos criados para este projeto, que mantém dois tipos de público: o geral e o criador.
Produzido pelo Teatro da Cidade, “Invocação ao meu corpo” conta com texto e encenação de Guilherme Gomes e surge na sequência do espetáculo “Lamento de Ciela”, estreado em 2019.
“É uma tentativa de aprofundamento de um conceito sociológico que é a anomia, criado por Émile Durkheim para momentos de transição de valores sociais”, explicou Guilherme Gomes aos jornalistas.
Este espetáculo, que será apresentado em 13 e 14 de novembro e que é uma coprodução do Centro Cultural de Belém, está também “muito focado na revolução árabe e em ‘Os sete pilares da sabedoria’, de T. E. Lawrence”, acrescentou.
O espetáculo contará com uma “espetadora infiltrada”, a socióloga Filipa Godinho, que faz parte do processo de criação e irá analisar o espetáculo.
Entre 24 e 28 de novembro, a companhia ArDemente apresentará “Sem mordaça”, um espetáculo que tem coprodução do Creta.
O seu diretor artístico, Gabriel Gomes, explicou aos jornalistas que se trata de um espetáculo interativo que recorre a discursos políticos de pessoas como Barack Obama, Adolf Hitler e Ângela Merkel.
“Pretendemos pegar em discursos políticos existentes na História e ver de que forma a oratória ajuda à manipulação dos discursos para dizerem aquilo que acham que as pessoas querem ouvir”, frisou.
O público-alvo são “alunos do ensino secundário, por serem pessoas que se aproximam da maioridade” e da idade de poderem votar.
Antes do espetáculo, serão realizadas oficinas, sendo que o material delas resultantes “servirá de matéria-prima para a criação do projeto”, acrescentou.
Até ao final do ano, o Creta promoverá também recitais de poesia, um pretexto para convidar criadores a pensar e a experimentar sobre o exercício de encenação, e o “Clube de leitura de peças de teatro”, proporcionando discussões sobre obras de dramaturgia mundial.
“O princípio de um espetáculo”, que dá a conhecer ideias de vários criadores sobre a construção do teatro, e “O lugar de onde se ouve”, um convite a ouvir uma realidade imaginada para um lugar real, são outras iniciativas a desenvolver em Viseu até ao final do ano.
A Câmara de Viseu apoiou o projeto Creta – Laboratório de Criação Teatral com 50 mil euros.
O vereador da Cultura, Jorge Sobrado, explicou que o município considera este projeto “um laboratório de experimentação, de formação, de criação de competências e daquilo que são as bases elementares da criação artística e da formação artística”.
“Olhamos para o projeto Creta como um embrião de uma escola de talentos e de competências artísticas ligadas ao teatro”, frisou Jorge Sobrado, acrescentando que faz parte das ambições da autarquia que a cidade de Viseu tenha uma estrutura desse género “a médio prazo”.
Nas suas duas edições, o projeto Creta envolveu 60 artistas.