Programa!Ação · 3.ª Mostra

Iniciada em 2019, a mostra Programa!ação proporciona aos espectadores visionamentos comparatistas na obra de realizadores portugueses. Considerando o esforço de digitalização do património cinematográfico e as raras oportunidades para ver de forma digna alguns marcos do cinema português, a mostra mudou o seu foco para recuperar a obra de autores marcantes do cinema português, bem como proporcionar novas abordagens e contextos aos primeiros filmes portugueses através da intervenção musical.

Entre 29 de setembro e 20 de novembro, a 3.ª edição da Mostra Programa!ação vai recuperar a obra de cinco realizadores marcantes do Novo Cinema Português: Fernando Lopes, Eduardo Geada, António Reis e Margarida Cordeiro, Alberto Seixas Santos, e, Paulo Rocha, permitindo o visionamento comparatista entre as obras iniciais, elementos marcantes do Novo Cinema, com obras mais tardias. Nesta 3.ª edição, optou-se por uma curadoria que olha aos factores de diferenciabilidade do nosso património cinematográfico num contexto de progressiva digitalização do seu acervo, para que numa mostra de conjunto se possam constituir elementos relevantes para a compreensão da cinematografia nacional, da sua evolução estético linguística e de como à luz de uma época de poucas liberdades e recursos se ousou construir uma representação da realidade e das transformações sociais de Portugal.  

Esta opção curatorial só é concretizável pelo acesso a meios de projeção digital de cinema, sendo esse mesmo meio uma possibilidade para fomentar no público um olhar crítico sobre o passado do cinema português. Simultaneamente e em articulação com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema I.P., é nos possível promover a descentralização no acesso à exibição do cinema patrimonial nacional, permitindo aos públicos a aproximação dos espectadores da história do cinema nacional, bem como da sua produção contemporânea, dando-lhe instrumentos críticos para uma melhor literacia sobre a estética e o traço autoral do cinema português, bem como uma compreensão sobre  a arqueologia dos media e a sua influência nas formas de expressão.  

Mais que uma mostra, o Programa!Ação é uma oportunidade agregadora de, ao longo de várias semanas, unir o conceito de “futuro” ao de “passado” e “presente”, explorados nas anteriores edições. Nesse sentido nesta terceira edição será apresentado um catálogo que para além das fichas técnicas dos filmes reúne resenhas de vários autores convidados, entre eles Alexandra João Martins, Ana Bela Morais, Filipa Rosário, José Duarte, Raquel Morais, Tiago Fernandes, numa edição coordenada por Paulo Cunha.

Um outro aspecto inovador a que nos propomos nesta edição é a realização de Cine-Concertos tendo como foco cinematográfico o Cinema Português Histórico e como foco musical projectos artísticos de Coimbra. Esta é uma forma de reforçar os laços comunitários com o cinema de património nacional e apoiar o relançamento cultural das bandas da região de Coimbra, associando-as a novas vivências cinematográficas diferentes e irrepetíveis.

Exibições

#1 e #2: Fernando Lopes – Da docuficção ao roadmovie
Fernando Lopes (1935-2012) foi um dos realizadores que fez parte daquilo que hoje convencionamos como “Novo Cinema Português”. As obras escolhidas para exibição destas sessões, pretendem demonstrar que formatos como o docuficção ou o filme de estrada não são “estrangeiros” ao cinema português.

  • Belarmino (Fernando Lopes, 1964) – 72 min
  • 98 Octanas (Fernando Lopes, 2006) – 94 min

#3 e #4 Eduardo Geada – crítica pelo cinema
Eduardo Geada (1945) é um realizador cujo interesse pelo cinema foi despertado pelo movimento cineclubista. Inicialmente intervindo como ensaísta teórico e crítico do cinema, também marcou o Novo Cinema Português em geral e o militante em particular. Fez parte de críticos de cinema que, pelo seu estudo e paixão, se dedicaram à realização, tendo inclusivamente outros críticos (como João Lopes em “Sofia ou a Educação Sexual”) como assistentes.

  • Sofia ou a Educação Sexual  (Eduardo Geada, 1973) – 101 min
  • Passagem por Lisboa (Eduardo Geada, 1994) – 115 min

#5 e #6 Poesia Documental de António Reis e Margarida Cordeiro
António Reis e Margarida Cordeiro deixaram uma obra transformadora da história do cinema e dos seus intervenientes. Se por um lado se considera António Reis como o representante máximo do filme documentário do movimento do Novo Cinema, a sua forma de exploração técnica do cinema directo influenciou a estética de uma série de importantes realizadores como João Pedro, Pedro Costa, Vítor Gonçalves, João Salaviza ou mesmo Miguel Gomes. Esta programação pretende aprofundar o telúrico e o espiritual que estes filmes captam e inscrevem no tempo através de uma “poesia de terra”. As obras apresentadas pretendem ainda mostrar o impacto da presença de Margarida Cordeiro, que muitas vezes não mereceu – injustamente – referência ou reconhecimento pela sua co-realização.

  • Trás-os-Montes  (António Reis e Margarida Cordeiro, 1976) – 101 min
  • Rosa de Areia (António Reis e Margarida Cordeiro, 1989) – 105 min

#7 e #8 Alberto Seixas Santos e Cineclubismo
O Cineclubismo tem um importante papel na formação de públicos, estimulando os espectadores a ver, discutir e refletir sobre o cinema. Alberto Seixas foi um dos importantes realizadores do Novo Cinema Português, cuja actividade cineclubista embrionou a sua sensibilidade estética e artística. Foi essa resiliência de querer mostrar mais e melhor que o motivou ainda a fundar o Centro Português de Cinema, sendo por isso considerado um dos principais responsáveis pelo estímulo da criação cinematográfica nacional, através do modelo de financiamento e investimento que permitiu aos artistas portugueses a criarem no seu próprio país. Uma figura incontornável da “criação” da linguagem de cinema português e do activismo pela arte.

  • Brandos Costumes  (Alberto Seixas Santos, 1974) – 72 min
  • E o Tempo Passa  (Alberto Seixas Santos, 2011) – 105 min

#9 e #10 Paulo Rocha e a Actriz fetiche
A
o revisitar as primeiras obras e as colocar para comparação com as mais tardias, proporciona também o cruzamento entre criador e intérprete. Considerada como “actriz fetiche” de Paulo Rocha, estes dois filmes – com meio século a separá-los – mostram a actriz Isabel Ruth e o seu desenvolvimento como intérprete, ao mesmo tempo que analisamos o crescimento técnico-artístico de Paulo Rocha. Seguindo o chamado “método de Renoir”, onde as narrativas dos filmes se alimentam das sugestões dos actores, Rocha apresenta ao público um processo revolucionário mesmo para o Novo Cinema Português.

  • Os Verdes Anos  (Paulo Rocha, 1963) – 91 min
  • Se eu Fosse Ladrão, Roubava  (Paulo Rocha, 2013) – 100 min

Cine-Concertos

#1 A Fonte dos Amores, de Roger Lion (1924), performance por Marcelo dos Reis

#2 Os Lobos, de Rino Lupo (1923), performance de Wipeout Beat

#3  Três Dias Sem Deus, de Bárbara Virgínia (1946), performance por Marcelo dos Reis

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