PR apela a instituições que sigam o exemplo do Leixões e acolham sem-abrigo

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O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse ontem que se outras instituições tomassem o exemplo do Leixões SC que integrou dois sem-abrigo, abria-se caminho à resolução de muitos problemas.

O chefe de Estado esteve hoje no Estádio do Mar, casa do Leixões Sport Clube que recentemente acolheu dois sem-abrigo.

“Se, já não digo grandes clubes, mas instituições com outro poder e outra dimensão pudessem seguir estes exemplos abririam caminho à resolução de problemas de vida de muita gente. Mas enfim fica aqui agradecimento a quem teve a ideia e sobretudo agradecido a eles. Os heróis são eles que realmente deram a volta à vida”, afirmou em declarações aos jornalistas.

Carlos Daniel e Joaquim Melo trabalham agora para o Leixões e um deles vive até nas instalações onde o clube coloca alguns jogadores das camadas jovens.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, Carlos e Joaquim são os heróis desta história que, frisou, pode ser repetida se outras instituições “que têm outras hipóteses e outras possibilidades” tivessem este gesto.

“O que é que custará abrir caminho a uma, duas, três pessoas, quatro pessoas, quando se trata de outras instituições com mais poder”, questionou.

“Temos aqui dois heróis, o Joaquim e o Carlos que deram a volta por cima à vida. Tiveram aqui amigos. O presidente do clube compreendeu que quem mais tem, mais tem de dar. E cá temos os dois a colaborarem, os dois entusiasmados. Um deles a pintar as cadeiras do estádio, onde estive sentado, e outro continua a estudar à noite”, acrescentou.

Joaquim Melo contou aos jornalistas que esteve na rua uns meses devido a uma situação de vida particular que preferiu manter só para si. Foi o Leixões que o resgatou aos 59 anos e lhe deu um teto onde tenta agora construir novo futuro.

“Sinto-me muito bem acolhido, a partir daí está tudo jóia. Só sei que daqui para a frente a minha vida corra tudo bem. Eles estão a ajudar-me e muito e espero que consiga”, afirmou.

No estádio a que agora chama casa, Joaquim é o responsável pela pintura das cadeiras. Hoje Marcelo quis ver de perto o seu trabalho. Sentou-se nelas e elogiou a arte de quem tenta integrar-se.

“Veja lá se pinta isso bem pintadinho”, atirou o Presidente da República.

Os elogios foram repetidos a Carlos Daniel, de 41 anos, “o zelador” do lar dos atletas do Leixões, que está a estudar à noite para tirar o 12.º ano.

Assume que no seu passado há um historial de violência doméstica que o levou à rua onde estava desde agosto. Garante que não teve apoios do Estado e que foi o Leixões que o ajudou.

O presidente da SAD do Leixões, Paulo Lopo, conta que até hoje o papel social do clube resumia-se à recolha de alimentos ou a um ou outro sorteio para angariar verbas para oferecer uma cadeira de rodas.

“[O apoios aos sem-abrigo] começou porque o meu coordenador da formação conheceu o Carlos. O Carlos vivia há três, quatro meses talvez, no carro e dormia numa bomba de gasolina ou onde se sentia seguro. E falou-me no caso e nós achamos que podíamos fazer qualquer coisa por ele. É pessoa nova, ele disse-me que ele estudava à noite e fomos sensíveis a essa realidade”, contou.

Depois, continuou aquele responsável, foi alertado para a situação de Joaquim que vivia na rua há uns três meses e nesse mesmo dia os funcionários foram buscá-lo.

“O Carlos adaptou-se muito bem. Dorme no Lar do Atleta, é um lar que nós temos onde dormem os atletas mais novos que vêm de fora do Porto. É ele que os levanta que os obriga a ter a casinha arrumada e obriga a tomar o pequeno-almoço a horas, leva-os aos treinos. Faz um papel de zelador, como ele gosta de se chamar”, contou.

Já Joaquim, explicou Paulo Lopo, chegou ao clube muito fragilizado, contando que havia dias em que não comia nada, e teve uns primeiros dias de adaptação mais difíceis.

“Agora está em casa. Essencialmente eu sinto que eles estão felizes que é o mais importante”, frisou, lembrando que os sem-abrigo são pessoas normais a quem a vida pregou uma partida”.

“Nós não somos um clube muito rico, mas, à nossa dimensão, não nos custou nada tocar a vida de duas pessoas”, concluiu.

 

Lusa