Porcas e parafusos "fogem" à sucata e transformam-se em peças artísticas em Nandufe, Tondela

Porcas, parafusos, correntes, rolamentos, molas e anilhas conseguiram “fugir” ao destino de irem parar à sucata pelas mãos de José António Antunes, que lhes deu nova vida, transformando-os em peças artísticas.

“Ninguém passa cartão a uma porca ou a um parafuso abandonados no chão, mas eu pego neles e faço uma construção”, contou à agência Lusa o serralheiro de Nandufe, no concelho de Tondela, que, em breve, pretende conseguir a carta de artesão.

Serralheiro desde a adolescência, José António Antunes, aos 51 anos, está a conseguir transformar em peças artísticas as ideias que lhe povoam a cabeça. Pondo em prática a expressão “lixo de uns, tesouro de outros”, das suas mãos já saíram dezenas de peças que tem levado a feiras de artesanato.

Do seu espólio atual, constam peças mais pequenas e simples, como flores ou crucifixos, e outras maiores e mais trabalhosas, como um barco e um chapéu de ‘cowboy’.

“É quase impossível eu repetir uma peça. Acho que nunca fica perfeita da primeira vez e acrescento sempre mais alguma coisa na vez seguinte”, referiu, acrescentando que também os materiais usados variam consoante o que tem disponível.

As ideias surgem-lhe em catadupa na cabeça, muitas das vezes quando vai a conduzir de regresso à oficina, depois de ter ido a algum lugar “assentar uma obra” do seu trabalho de serralheiro.

“Aparece-me na cabeça já a peça feita. É como se fosse uma fotografia. A primeira coisa que faço quando chego à oficina é alinhavar o projeto que eu tinha na cabeça, antes que fuja”, gracejou.

A partir desse momento, “é quase automático fazer essas ideias passarem para a realidade”, afirmou José António, acrescentando que a maior dificuldade é conseguir ter tempo para conciliar o trabalho de serralheiro, que é o que lhe garante um salário, com a sua veia de artesão.

A mulher, Graça Antunes, frisou à Lusa que a criatividade do marido “sempre esteve presente, mas nunca tinha sido estimulada”.

A reação das pessoas nas feiras de artesanato onde tem acompanhado o marido, nomeadamente em Tondela, Viseu e Aveiro, tem sido um incentivo para ele fazer cada vez mais e melhor.

A primeira vez que José António expôs as suas peças em público foi em setembro de 2022, quando acompanhou Fausto Dinis, outro artesão de Nandufe, no stand que este tinha na Feira Industrial e Comercial do Concelho de Tondela (FICTON).

“O nosso objetivo principal, por agora, é expor, ver qual é a reação das pessoas às peças. As pessoas passam uma primeira vez, olham, não devem perceber do que se trata e decidem voltar atrás e falar connosco”, recordou.

Segundo Graça Antunes, “há muitas pessoas que percebem que há ali qualquer coisa que marca a diferença e comentam que nunca viram nada parecido”.

José António Antunes sempre gostou de desenhar e de “pegar num canivete e num bocado de madeira e criar qualquer coisa”.

Há uns anos, uma cliente da zona de Lisboa pediu-lhe para fazer “uns puxadores e umas coisas mais elaboradas, mais minuciosas, diferentes do que habitualmente se vê”, e, sem saber, motivou-o a ir mais além em termos criativos.

As primeiras peças, que surgiram em 2018, foram contornos do rosto de uma mulher em ferro e bustos de mulher em anilhas, porcas e pregos, feitos com a intenção de enfeitar as paredes de casa.

“As reações das pessoas que vinham a minha casa eram muito boas, até pensavam que eu tinha comprado as peças nalgum lado”, contou.

O material que recicla é recolhido em sucatas ou arranjado por amigos que trabalham em oficinas e inclui também discos de embraiagem, correntes de mota e de bicicleta, chaves de parafusos e carretos que ganham novas funções.

A sua peça preferida e que, se vendesse, seria provavelmente a mais cara, é o chapéu de ‘cowboy’, que exibe orgulhosamente ao lado de uma pistola e de uma bota. Na sua cabeça, anda já a “magicar” um cinto para completar o conjunto.

“Sempre gostei de criar coisas. Imagino-as e depois meto-me a fazê-las. No fim até fico admirado e pergunto-me: como é que eu consegui?”, admitiu o serralheiro.

Para já, as peças são ainda “um passatempo para libertar a cabeça de outros trabalhos” que não exigem criatividade. São feitas “aos bocados”, à noite e ao fim de semana.

Neste momento, está a começar a ganhar forma um cão. José António comprou uma miniatura em plástico, que já “agigantou” para uma estrutura em arame que ajudará a dar forma à peça final.

“A estrutura de arame não vai ficar, é só um alinhamento para eu ter uma noção. Também usei esta técnica para fazer o chapéu e a bota”, explicou.

O cão vai, nos próximos tempos, dividir o espaço da oficina de José António com o alumínio que usa para fazer portas e o ferro que dará corpo aos gradeamentos de casas porque, pelo menos por agora, “é assim que tem de ser”.

“Gostava que esta parte da minha vida ocupasse bastante mais tempo, porque é uma forma de conseguir exercer a criatividade que não posso ter nos trabalhos que as pessoas me pedem na oficina. Qualquer serralheiro faz um portão, isto aqui é que já não”, afirmou, apontando, orgulhoso, para o chapéu de ‘cowboy’.

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