O tema “Paisagem, um Território Comunitário em Expansão” juntou hoje, dia 3 do Planalto, à mesma mesa, no Auditório Municipal Padre Bento da Guia, quatro especialistas numa conversa em que se debateram os desafios e oportunidades, as regiões mais envelhecidas atraírem habitantes e turistas, através da sua paisagem (visual, cultural, artística). Apesar das preocupações unânimes de que o território está em constante transformação, em risco constante pela mão do homem e pelas alterações climáticas, os intervenientes acreditam que houve mudanças positivas no último par de anos e que o futuro é de promissores planos de ação.
O arquiteto paisagista, João Bicho, moderador do debate, disse mesmo que o civismo ecológico será uma garantia, ainda que não aprazasse tal otimismo com datas, admitindo apenas que a educação precoce é fundamental neste domínio. Já a Diretora Regional da Conservação da Natureza do Norte (ICNF), Sandra Sarmento, referiu, igualmente, que a pandemia mudou muito a mentalidade dos portugueses no que toca ao respeito pela Natureza e à procura por um “turismo de autenticidade”, em que o visitante quer “beber, sentir, comer, ver o sítio onde vai”.
A presidente do Conselho Executivo da Fundação Côa Parque/Museu do Côa, Aida Carvalho, exemplificou este respeito com o silêncio que os visitantes fazem nas visitas às gravuras rupestres cujo acesso é através de caiaques pelo rio, onde todos os anos nidificam um ou mais casais de cegonhas negras. “É uma espécie em vias de extinção a quem acabamos por garantir a proteção e pedimos aos turistas que se mantenham em silêncio absoluto quando passam por ali. E eles fazem-no rigorosamente”.
João Bicho questionou ainda sobre a possibilidade de haver visitas pelos campos no Verão, com infraestruturas de lazer, de maneira a atrair pessoas e lucro, mas Sandra Sarmento garantiu que não há ainda condições para isso. Há um novo plano de ação em curso que consiste em garantir a biodiversidade das florestas, tornando-as mais resilientes ao fogo. “Com o fogo não se brinca. Não esqueceremos 2017. Há ainda muito a fazer”, sublinhou.
No que toca às mil árvores que o Planalto – Festival das Artes plantará na área do Matão, com o apoio do ICNF, João Bicho inquiriu o que será feito delas depois? “Quem garantirá a sua manutenção nos anos seguintes? Quem permitirá que um carvalho chegue aos cem anos?”. Não há resposta. Assim como não há resposta possível para o que será a paisagem daqui a meio século. O fundador do Museu virtual da Paisagem, e doutorado em Ciências da Comunicação, João Abreu sabe uma coisa: “A paisagem é de todos. É global”. E tem de ser encarada dessa forma.
Daí que o registo da transformação da paisagem tenha de ser feito. As oliveiras de Beja que estão a desaparecer. A maçã que pode vir a dar lugar a outro tipo de produção. Registar onde há perdas e potencial. O que é possível fazer para atrair novos povoadores. Ou repovoadores. Mas mais importante “é a sensibilidade das pessoas, os proprietários de terrenos que cumprem regras”. “A perceção de que todos somos paisagem. O papel do nosso museu virtual é provocar reação. Talvez um dia sejamos um museu maior, descentralizado e sem estar na Internet. Para já, vamos visitando vários sítios”.
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