Pelo menos uma dúzia de antigos presidentes quer voltar a liderar

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Pelo menos uma dúzia de antigos líderes camarários anunciaram que são candidatos nas autárquicas deste ano, alguns deles através de grupos de cidadãos por já não terem o apoio dos partidos que representaram quando foram presidentes.

O regresso de autarcas aos municípios que presidiram depois de anos afastados, as trocas de concelho e o recurso a movimentos independentes têm acontecido sobretudo desde que, nas autárquicas de 2013, entrou em vigor a lei que limita a três os mandatos consecutivos permitidos para a eleição de um presidente pelo mesmo município.

O comunista Carlos Humberto de Carvalho, atualmente primeiro secretário da Área Metropolitana de Lisboa, foi presidente no Barreiro (distrito de Setúbal) entre 2005 e 2017 e quer recuperar para a CDU esta autarquia, que atualmente é do PS, após um mandato de pousio.

Em Vila Real de Santo António (Faro), quem quer regressar é Luís Gomes (PSD), que foi presidente da Câmara de 2005 a 2017, altura em que foi substituído por Conceição Cabrita, que entretanto renunciou ao mandato depois de ter sido detida no âmbito de um caso de corrupção na venda de um terreno da autarquia.

Em Viseu, é de novo candidato Fernando Ruas, o histórico presidente da autarquia entre 1989 e 2013, antigo presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses e atualmente deputado na Assembleia da República eleito por Viseu, onde é o presidente da comissão do Poder Local.

Ruas foi a solução social-democrata depois da inesperada morte, em abril, do seu sucessor em Viseu, António Almeida Henriques, devido à covid-19, que seria o candidato do PSD.

Francisco Tavares, ex-presidente em Valpaços (Vila Real) durante 28 anos, entre 1985 e 2013, é o candidato anunciado pelo PSD para a Câmara de Chaves nestas autárquicas.

Em Mêda (Guarda), o antigo presidente João Mourato (1985 – 2009) vai candidatar-se de novo pelo PSD, apesar de em 2013 ter integrado as listas do PS, como independente, para ser presidente da Assembleia Municipal de Miranda do Corvo (Coimbra).

A carreira autárquica de António Sebastião em Almodôvar (Beja) já vem de longe. Foi candidato pela Aliança Povo Unido (APU) em 1979 e eleito vereador da oposição na Câmara nestas primeiras eleições autárquicas. Foi vereador da oposição pela CDU até 1993 e, de 1997 a 2001, desempenhou as mesmas funções como independente, mas nas listas do PPD/PSD.

Acabou por ser eleito presidente da Câmara de Almodôvar pelo PSD em 2001, 2005 e 2009, nos primeiros dois mandatos como independente e no último como filiado no partido.

Em 2013 desfiliou-se para se candidatar à Câmara como número dois numa lista de cidadãos, voltou a candidatar-se em 2017 pelo PSD como independente e agora volta a ser o candidato social-democrata, já filiado de novo no partido.

Sem o apoio dos partidos pelos quais desempenharam funções, há candidatos que optam por constituir movimentos de cidadãos.

Desidério Silva, presidente da Câmara de Albufeira entre 2001 e 2012, altura em que suspendeu o mandato para presidir à Região de Turismo do Algarve, anunciou a sua recandidatura à Câmara mas, como o PSD não lhe deu o apoio pedido, vai encabeçar um movimento de cidadãos.

Luís Correia foi presidente de Castelo Branco desde 2013 até ao dia em que o Tribunal Constitucional decretou a sua perda de mandato, em julho de 2020, por o autarca ter assinado, na qualidade de presidente da Câmara, dois contratos com uma empresa detida pelo seu pai.

Contudo, em fevereiro de 2021, o Tribunal de Castelo Branco absolveu Luís Correia e este decidiu abandonar o partido e avançar com uma candidatura independente à Câmara, depois de, em março de 2021, a Comissão Política Concelhia do PS ter anunciado o professor e atual presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, como candidato socialista ao município.

Raul Castro foi presidente da Câmara da Batalha entre 1990 e 1997 e depois da Câmara de Leiria em 2009 e nos dois mandatos seguintes, tendo interrompido o terceiro mandato em 2019 para ser deputado socialista. Anunciou que vai ser candidato à Câmara da Batalha por um movimento independente que integra ainda António Lucas, também ele antigo presidente da Batalha, eleito pelo PSD.

Na Mealhada foi apresentado um outro movimento independente constituído por antigos autarcas deste município. O candidato a presidente é António José Franco, ex-vereador do PS, mas a lista apresenta Carlos Cabral, presidente do município de 1999 a 2013, como cabeça de lista para a Assembleia Municipal e Filomena Pinheiro, que foi a sua vice-presidente, como número dois da lista à câmara.

Na Vidigueira, Manuel Narra foi, durante três mandatos, presidente da Câmara pela CDU até 2017, desvinculou-se do PCP em 2018 e agora é candidato pelo Movimento MaisCidadãos.

Francisco Martins era socialista em 2019 quando abdicou da presidência da Câmara de Lagoa por motivos de saúde, tendo sido então substituído por Luís António Encarnação, que é agora o candidato do PS às autárquicas do outono.

No entanto, Francisco Martins quer voltar à presidência, porque os problemas de saúde estão ultrapassados, e, sem o apoio do PS, decidiu fazê-lo pelo movimento “Lagoa Primeiro”.

Carlos Sousa, antigo autarca comunista, quer regressar à presidência de Palmela à frente de um movimento independente. O histórico autarca foi presidente de Palmela entre 1994 e 2001 e da Câmara de Setúbal de 2001 a 2006, altura em que saiu, em rotura com o partido, acabando por se desfiliar em 2008.

Na Câmara de Setúbal, Carlos Sousa foi substituído por Maria das Dores Meira, que venceu as três eleições seguintes (em 2009, 2013 e 2017) e chega agora ao seu limite de mandatos nesta autarquia, mas anunciou que a sua candidatura pela CDU a Almada, um habitual bastião comunista que nas mais recentes eleições foi roubado pelo PS, elegendo Inês de Medeiros, por apenas pouco mais de 400 votos de diferença.

Outro destes casos de troca de concelho é o de Fermelinda Carvalho, que está no fim do terceiro mandato à frente da Câmara de Arronches, tendo o PSD aprovado a sua candidatura a Portalegre.

Há ainda autarcas ‘dinossauros’ que continuam a poder ser candidatos porque ainda não cumpriram três mandatos consecutivos após o seu regresso e da entrada em vigor da lei.

Isaltino Morais, em Oeiras, é candidato a um segundo mandato no outono, mas já tinha presidido à Câmara de Oeiras entre 1985 e 2002, pelo PSD, e entre 2005 e 2013, já como independente.

Ribau Esteves (PSD), quando já não podia recandidatar-se por limitação de mandatos, trocou Ílhavo por Aveiro, onde se apresenta agora a um terceiro e último mandato.

O mesmo aconteceu com Vítor Proença (CDU), que trocou Santiago do Cacém por Alcácer do Sal, e com Carlos Pinto (CDU), que saiu de Montemor-o-Novo para ser eleito presidente em Évora.

Manuel Machado, em Coimbra, Pita Ameixa, em Ferreira do Alentejo, e Veiga Maltez, na Golegã, todos socialistas, são outros exemplos de autarcas que voltaram aos municípios a que já tinham presidido, depois de anos afastados, e que ainda podem recandidatar-se nas próximas autárquicas.

A data de realização das eleições autárquicas ainda não é conhecida, mas será marcada pelo Governo para setembro ou outubro deste ano.