O corpo é o tema central do festival de dança NANT do Teatro Viriato

1627

O festival de dança NANT, no Teatro Viriato, em Viseu, destaca, nesta edição, o corpo como o elemento principal nos espetáculos e debates, assim como no ciclo de cinema do Cine Clube de Viseu, anunciou hoje a organização.

O NANT (“New Age, New Time”) atinge este ano a 10.ª edição, mas a diretora do Teatro Viriato, Patrícia Portela, assume-a como a primeira, uma vez que rebatizou a denominação para “Novas Ações, Novos Tempos” e assumiu a “ousadia” de passar este festival de dança de novembro para janeiro.

“Para começar o ano com uma programação de dança”, justificou Patrícia Portela no dia em que apresentou aos jornalistas a programação desta edição “toda ela dedicada à ideia de corpo, que parece muito óbvia, porque é dança, mas ao mesmo tempo esta pandemia tem questionado isso”.

Patrícia Portela levantou questões como “o que é um corpo saudável” e “o que é um corpo doente; o que é um corpo que pode estar presente e pode abraçar” ou um que “não pode ver ninguém” ou ainda um que “pode contaminar alguém e pode ser fatal” ou “o que pode ser fatal, não ter ninguém por perto e não poder abraçar?”.

“Todas estas questões nascem a partir desta ideia de corpo. Temos um corpo vivo e, às vezes, temos tendência a esquecermo-nos que somos identidades que se movem e mudam, que sofrem metamorfoses e que também acolhem outros corpos, outras ideias e outros vírus”, justificou.

Neste sentido, e com o corpo “como tema para percorrer este festival”, o Teatro Viriato convidou artistas que considerou “fundamentais e que desenvolveram, muitos deles, o trabalho durante a pandemia, ou seja, são corpos resistentes e artistas resistentes”.

O festival, que começa na sexta-feira e vai até 29 de janeiro, junta-se ao Cine Clube de Viseu, que também ele programou um ciclo de cinema dedicado ao corpo e faz uma “espécie de pré-lançamento” do festival com o filme “O homem que vendeu a sua pele”, de Kaouther Ben Hania, e, no dia 20, apresenta o documentário “Nada pode ficar”, de Maria João Guardão.

Esta sessão abre também um debate sobre o corpo entre convidados e espectadores, tal como acontecerá “em todos os espetáculos” do NANT, uma vez que Patrícia Portela defendeu que “é muito importante manter o diálogo constante entre público, convidados e artistas”.

Na sexta-feira, o NANT “abre com o ‘Bate Fado’, de Jonas & Lander, que é mais uma vez o corpo na sua relação com a tradição e com uma tradição”, desvendou Patrícia Portela, que entende que “este fado dançante é algo que à primeira estância não ocorre pensar, de que o fado pode ser dançado”.

“No sábado teremos uma peça muito bonita, muito delicada, muito sensível, muito subtil do Mário Afonso que se chama ‘Framework’. É um trabalho de uma enorme exposição e de uma enorme generosidade sobre um corpo que volta a dançar passados muitos anos e o corpo já não obedece e não cria da maneira que queríamos”, contou.

Para o público a partir dos 3 anos, Patrícia Portela anunciou “As estrelas lavam os teus pés”, uma peça de Sara Anjo, feita a partir da obra de Hieronymus Bosch e que poderá ser vista durante a semana.

“Também teremos ‘Hip. A pussy point of view’ que fará um espetáculo e uma oficina para adolescentes e onde nos vai desafiar através de um espetáculo radical em que nos conta uma história com os conflitos raciais de género, a relação entre o corpo e a cultura e a sua identidade e a política. É um trabalho que nos tira a respiração”, disse.

O espetáculo “O que não acontece”, de Sofia Dias e Vítor Roriz, “é um espetáculo onde muito acontece sobre esta coisa de não acontecer” e, considerou Patrícia Portela, “é um corpo duplo, uma dupla que não se distingue, são dois corpos que são um, mas também são múltiplos”.

De Miguel Pereira, em parceria com Guillem Mont de Palol, é possível assistir a “Falsos Amigos” que a diretora desvendou que “parte de uma ideia muito simples”, ou seja, “de palavras que são ditas da mesma maneira em duas línguas, mas querem dizer coisas completamente diferentes”.

“Terminamos com ‘O susto é um mundo’, de Vera Mantero, e com todas as questões a abrir para o espaço intergaláctico do que é isto de sermos corpos na internet, corpos digitais, virtuais e de estarmos presentes”, adiantou.

A diretora não escondeu “a alegria” do regresso às plateias do público presencial, sem entrar em pormenores de como é que isso vai acontecer, “uma vez que na semana passada era uma coisa, esta semana é outra e para a semana ninguém sabe se vai haver alterações”.

“Para já ficamos muito contentes por não ser preciso teste” à covid-19, bastando o certificado digital para assistir aos espetáculos.