Ativista pelos direitos humanos e feminista 24 horas por dia, Manuela Antunes, mais conhecida por Né, prepara-se agora para uma nova luta, ao encabeçar a lista do BE à Câmara de Viseu nas eleições autárquicas de 26 de setembro.
“Desde sempre me lembro de andar em campanhas ou lutas”, diz a professora de Educação Física, destacando a campanha de Maria de Lourdes Pintassilgo nas presidenciais de 1986 e a campanha nos referendos pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez, em 1998 e 2007.
A rua tem sido um palco da sua vida política, seja em manifestações pelos direitos laborais, seja contra o racismo, a xenofobia ou a violência sobre as mulheres.
Manuela Antunes integrou a Comissão Distrital de Viseu do BE e, em 2012/2013, exerceu funções de deputada municipal. Foi candidata nas eleições europeias de 2014 e candidata à Câmara de Viseu nas autárquicas de 2013.
Atualmente, aos 54 anos, faz parte da Comissão Coordenadora Concelhia de Viseu do BE e é deputada na Assembleia de Freguesia de Viseu pelo mesmo partido, desde 2017.
A paixão pela política surgiu cedo, muito por ‘culpa’ dos debates políticos em que Acácio Barreiros participava como deputado da União Democrática Popular (UDP), em finais dos anos 1970.
“Ele era muito emotivo e transmitia confiança. Apesar de na altura não perceber a dimensão do que estava a acontecer, foi isso que mais tarde (ainda adolescente) me fez ingressar na UDP, com o apoio incondicional dos camaradas Carlos Vieira e António Amaro”, conta à Lusa.
Né recorda que “foi sempre um desafio constante ser diferente no pensamento, na atitude e no estilo de vida, tendo em conta o grande conservadorismo que se vivia em Viseu nas décadas de 80 e 90” do século XX.
Durante os seus 54 anos, empenhou-se na sua atividade profissional – em 33 anos de serviço, é professora há 31 na Escola Básica Dr. Azeredo Perdigão -, cívica, desportiva, associativa, sindical, cultural e política. Tem um mestrado em Desporto e Atividade Física e uma pós-graduação em Teatro Aplicado.
Agora, candidata-se novamente à Câmara de Viseu para “poder colaborar ativamente no desenvolvimento e progresso” do seu concelho e “fazer a diferença com políticas sem favoritismos”.
A candidata bloquista quer “tentar travar as maiorias absolutas que têm contribuído para o ‘quero, posso e mando’, que desvalorizam constantemente opiniões, vozes e contributos diferentes que poderiam ser uma mais-valia para melhorar a vida das pessoas”.
Desenvolver “um programa de verdadeira justiça social” seria uma das suas prioridades, apostando numa tarifa social automática da água, na promoção de habitação com custos controlados e acessíveis, e nos transportes locais gratuitos.
“Viver em Viseu com qualidade de vida não é para toda a gente, tendo em conta os preços assustadores da habitação e a falta de transportes que permitam a mobilidade dentro do concelho”, considera.
No seu entender, um presidente de Câmara deve ter “uma postura aberta, colaborativa” perante a oposição e “nunca fechar portas a opiniões diferentes”.
“Deve mesmo tentar no limite que essa colaboração produza propostas comuns e consensuais. Pode parecer uma utopia, mas acredito que, se todos os partidos colocassem em primeiro lugar as pessoas e as suas necessidades, teríamos mesmo o melhor concelho para viver”, sublinha.
O dia-a-dia de Né vai muito além da sua vida política, mantendo outras duas grandes paixões: o desporto e o teatro.
Na sua longa carreira desportiva, passou por vários clubes, quer como atleta, quer como treinadora de andebol. Orgulha-se de ter dado o “pontapé de saída” da primeira equipa de futebol feminino em Viseu e de ter sido a primeira mulher árbitra nos quadros nacionais da Federação Portuguesa de Andebol.
Tem participado ativamente em vários projetos com a comunidade, promovidos, por exemplo, pelo Teatro Viriato, pela Zunzum e pelos Jardins Efémeros, e é atriz dos grupos OFF e Molhe de Grelos.
Manuela Antunes foi também presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Viseu entre 2008 e 2013.
Nas eleições autárquicas de 2017, o PSD conseguiu 51,74% dos votos (seis mandatos) e o PS 26,46% (três mandatos). O BE foi a quarta força mais votada, com 4,79% dos votos.