Memórias da zona antiga de Tondela inspiram espetáculo “O Bosque”

Memórias da zona antiga da cidade de Tondela e das pessoas que a habitaram inspiraram a nova criação do Trigo Limpo Teatro ACERT, que coloca em palco três amigos que regressam ao bosque da sua infância.

Com encenação de Ilda Teixeira e texto de Rui Macário, “O Bosque” estreia-se na sexta-feira, no Novo Ciclo ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela).

“São três amigos que se juntam e vão ao bosque da sua infância. Tudo o que lá existe só existe na memória deles. A memória deles vai habitando esses lugares do bosque. Já não existe nada mais daquilo”, explicou hoje aos jornalistas Ilda Teixeira, no final de um ensaio.

Os três amigos são Sandra Santos, Ricardo Augusto e Pedro Sousa que, apesar de não terem vivido a sua infância em Tondela, criaram este universo com base nas suas memórias.

“Não somos de cá. Não podemos falar de uma memória de um lugar onde não vivemos as nossas infâncias. Apropriámo-nos daquilo que é a nossa vivência, as nossas memórias de infância, e, a partir dos improvisos que a Ilda nos ia propondo, íamos buscando aquilo que faz parte de nós”, contou Sandra Santos.

Segundo Ilda Teixeira, o espetáculo – que mostra uma visão poética e teatral da interdependência entre pessoas e lugares e traça um paralelismo com a vida nos bosques – integra “histórias que são transversais a qualquer sítio”.

“Temos, por exemplo, a personagem do homem do saco, transversal a muitas histórias para a infância. As pessoas vão identificar-se em qualquer sítio pelas memórias que aqui estão a ser vividas: a memória da mercearia que já não existe, do barbeiro que já não está lá, das casas que ficaram em ruínas. O que era a alma das cidades está a desaparecer”, lamentou.

Esta constatação foi o que levou Ilda Teixeira a pensar este espetáculo. Há um ano falou com Rui Macário, do Museu do Falso, e começaram a definir etapas e a ouvir as histórias dos moradores da zona antiga de Tondela.

“Começou a haver uma preocupação minha, sempre que dava um salto até à zona mais antiga da cidade e percebia que estava a ficar em ruínas, apenas algumas pessoas viviam lá e o pouco comércio que ainda existia também estava a morrer”, contou Ilda Teixeira, admitindo que ficou incomodada com o abandono “daquilo que foi o coração da cidade de Tondela”.

Rui Macário explicou que o essencial era conseguir “algo que pudesse preservar o modo de sentir determinados espaços das comunidades”.

“Há uma saudade mesmo que não se tenha conhecido a pessoa da mercearia ou do café. Há sempre uma história que se ouviu, uma alcunha que se atribuiu a alguém, uma referência nessa espacialidade”, realçou.

Uma referência para o trabalho desenvolvido em equipa foi a obra de Alice Vieira “Às dez a porta fecha”.

“Enquanto alguém se lembrar de nós continuaremos vivos” foi uma ideia presente na construção de “O Bosque”, realçou Rui Macário, acrescentando que “essas pessoas serão árvores, estão lá, de uma maneira ou de outra”.

Durante o processo criativo, houve visitas a lugares emblemáticos (como a loja do Serginho Tamanqueiro e a Mercearia Torres), foram ouvidas histórias que se transformaram em material teatral e Sandra Santos, Ricardo Augusto e Pedro Sousa recorreram à improvisação, partindo das suas memórias pessoais.

Além de ator, Ricardo Augusto é também o responsável pela música do espetáculo. O seu objetivo foi “tentar por mais uma camada de emoção a passar, através da música e dos sons”, explicou.

Depois da estreia, na sexta-feira, “O Bosque” volta a ser apresentado no sábado. Estão também já previstas novas datas para janeiro.

Ilda Teixeira considerou que “O Bosque” poderá vir a ser apresentado em outras cidades, uma vez que, apesar de estar fortemente ligado às memórias de Tondela, transcende a cidade e assume-se como um espetáculo universal.

Para o próximo ano, Ilda Teixeira pretende complementar “O Bosque” com um percurso pela cidade de Tondela.

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