Maioria dos 20 arguidos em silêncio em julgamento de tráfico de droga em Coimbra

Dezoito dos 20 arguidos optaram por se remeter ao silêncio no julgamento que começou hoje em Coimbra, em que são acusados de se dedicarem ao tráfico de droga, sobretudo cocaína e heroína, em diferentes distritos da região Centro.

Um dos arguidos não marcou presença por problemas de saúde e apenas uma mulher de 50 anos, que alegadamente traficava droga juntamente com o seu companheiro na zona de Peso da Régua, optou por falar, referindo que decidiu enveredar pela atividade, por o seu marido estar doente e o negócio como feirante “mal dava para comer”.

Durante o julgamento, a arguida confirmou que conhecia um dos outros arguidos, residente em Coimbra e que na acusação é apontado como seu fornecedor.

No entanto, referiu que se tinha envolvido com esse arguido, recusando qualquer relação com ele com base no tráfico de droga, vincando ainda que o seu companheiro não esteve envolvido no tráfico.

“Fui sempre eu sozinha. Conheço aqui ninguém”, disse.

A procuradora do Ministério Público notou que os depoimentos da arguida não batem certo com as comunicações intercetadas, fazendo alusão a telefonemas entre a mulher e o arguido residente em Coimbra, ou entre o seu companheiro e esse mesmo indivíduo, alegado fornecedor do casal.

A determinada altura, o companheiro da arguida disse qualquer coisa não percetível quando esta falava, tendo levado o juiz a dirigir-se a esse arguido, salientando que não podia tecer comentários ou falar, quando outra pessoa estava a prestar depoimentos.

Após esse episódio, a arguida disse que não queria responder a mais nenhuma pergunta.

A identificação dos arguidos apenas decorreu da parte da tarde, depois de vários atrasos durante a parte de manhã do julgamento que decorre no auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, por forma a garantir o distanciamento entre todos face à pandemia.

No auditório, para além dos três juízes e da procuradora, estavam duas oficiais de justiça, 18 advogados, 20 arguidos e mais de uma dezena de polícias e guardas prisionais (três arguidos estão presos preventivamente e um cumpre uma pena de prisão).

Assim que o tribunal estava pronto para iniciar a sessão às 11:00 (estava marcado para as 09:30), um dos advogados afirmou que não estavam asseguradas as condições mínimas para o trabalho da defesa ser desenvolvido, nomeadamente a falta de secretárias para ter computadores e documentos de um processo grande e complexo, ameaçando que teriam que abandonar o local.

O juiz Miguel Veiga, que preside ao coletivo, explicou que foi impossível realizar o julgamento no auditório da Faculdade de Direito, sugerindo que se fizesse, pelo menos, a identificação dos arguidos e outras questões introdutórias.

Por volta das 11:45, surgiu a possibilidade de se colocarem mesas num dos patamares da plateia, por forma a garantir condições aos advogados.

Advogados, funcionários e polícias ajudaram a carregar mesas e a sessão acabou por dar início já depois das 12:00, tendo ficado a identificação dos arguidos para o início da tarde.

O processo envolve cinco grupos que se dedicavam ao tráfico de droga em diferentes zonas da região Centro, alguns deles fornecedores de outros, vendendo estupefacientes sobretudo a outros revendedores, entre 2017 e 2019.

Os grupos tinham diferentes dimensões de abrangência geográfica e abordavam diferentes distritos da região, mas todos vendiam droga em “grande número a consumidores e revendedores”, não sendo determinada essa mesma quantidade ou o dinheiro resultante do tráfico, apesar de terem sido identificados dezenas de momentos de compra e venda de estupefacientes, refere o despacho do Ministério Público.

Quase todos os grupos eram liderados por casais, sendo identificado um que ia da Figueira da Foz até Viseu e Lamego, outro que se dedicava na zona do Peso da Régua, um no Pinhal Interior, outro em todo o litoral da região Centro da Serra d’El Rei até à Praia de Mira e um último que trabalhava sobretudo o interior, em concelhos do distrito da Guarda, Coimbra, Castelo Branco e Viseu.

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