Já está na estrada o 23.º Portugal de Lés-a-Lés

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É, de há cinco anos a esta parte, quando o atual formato substituiu o
prólogo mais quatro dias, um dia diferente, marcado pelo reencontro de
amizades de longa data. Ou dos amigos que se fizeram no ano passado. É
dia do Passeio de Abertura do Portugal de Lés-a-Lés que, na 23.ª edição,
rodará, pela primeira vez, em torno de um tema. Ou melhor ao longo dele.
Da N2, essa estrada mítica que é a 3.ª mais extensa do Mundo, com 738,5
quilómetros entre Chaves e Faro. Mas o Lés-a-Lés é, sempre, diferente! E
em 2021, com entusiasmo acrescido depois de meses de infindável fome de
estrada, será ‘Muito Mais Que a N2’.
Claro que, para que tudo decorra na máxima segurança e respeito
pelo Código da Estrada, motos e condutores passaram pelas Verificações
Técnicas e Documentais, pró-forma cumprido dentro das mais estritas
regras de segurança sanitária. Mas nem as máscaras ou os abraços virtuais
beliscaram a animação do reencontro antes do arranque rumo a um
percurso pelas serranas aldeias do concelho de Chaves, entre soutos de
centenários castanheiros e rotas onde os contrabandistas ganhavam o
sustento da família. Nada menos de 96 km de deslumbramento, de prazer
de condução e de uma alegria em cada aldeia como há muito não se sentia.
Arranque condizente com a resiliência e majestosidade do Lés-a-Lés,
bem vincada na concretização da edição 2020, marcada por inúmeras
limitações e dificuldades, a passagem pela milenar Ponte de Trajano. E não
é todos os dias que um veículo motorizado pode passar a ponte pedonal
criada pelos romanos, tal como os muitos troços de calçada romana que por
aqui vão resistindo ao passar dos séculos.
Mas, para começar, nada como a passagem pelo marco zero da N2,
com mais uns milhares de fotografias para a posteridade daquele que é m
dos pontos mais fotografados pelos mototuturistas portugueses e pelos
muitos estrangeiros que aqui acorrem em número crescente. Só nesta
edição do Lés-a-Lés, além de muitos e cada vez mais espanhóis,
motociclistas que vieram desde França, Itália, Hungria, Suíça, Alemanha,
Inglaterra ou Bélgica, para, logo de entrada, apreciarem a vistas

desafogadas sobre o vale do Tâmega até ao lado de lá da fronteira, a partir
do Miradouro de São Lourenço. Momento de deslumbre ‘tocado’ pelo
castelo que um americano está a construir à imagem das fortificações do
Séc. XII para tornar num polo de atração turística. Mais modesta, mas bem
‘terrena’ e simpática, a sede do Clube Motard de Chaves, presidido por
Filipe Carvalhal, recebeu a longa e heterogénea caravana, que vai desde as
pequenas Sachs Fuego de 50 cc ou várias Honda 125 PCX até às maiores
Honda Gold Wing de 1800 cc, passando por muitas BMW (a marca mais
representada) num carrossel de cores e volumes diversificados.
Mas nem só de N2 vive o Homem, tão pouco o Lés-a-Lés. Mesmo
sendo este um passeio temático teve, logo no primeiro dia, um toque de
diversidade na bonita EN 103, que liga Viana do Castelo a Bragança, antes
da passagem pelo castelo em Santo Estêvão, uma das três fortificações que
existem no concelho, palco de muitas investidas das tropas castelhanas e
onde o Rei D. Afonso II viveu na sua juventude. Passagem ainda pelo
Castelo de Monforte de Rio Livre, epicentro do concelho e de onde se
avista uma paisagem deslumbrante ou pela curiosa ‘pedra bolideira’ em
plena serra do Brunheiro. Um enorme bloco granítico de forma
arredondada, com mais de 3 metros de altura e cerca de 10 de
comprimento, que, mesmo pesando várias toneladas, é possível mover
apenas com um empurrão de qualquer pessoa. E muitos o comprovaram.
Num dia de temperatura agradável para a ‘prática da modalidade’,
com o sol tímido a garantir uma fresca agradável para andar de moto,
deleite com pormenores de histórica beleza em aldeias como Faiões,
Oucidres, Mairos ou, outras ainda, carregadas de estórias transfronteiriças,
Vilarinho da Raia, Vilarelho, Cambedo e Soutelinho da Raia. Onde
bombardeamentos, contrabandistas ou povoações onde se fala uma espécie
de dialeto luso-galaico foram alvo de toda a atenção
Regresso a Chaves, com passagem pelo Forte de S. Francisco e, num
registo mais artístico, a possibilidade de visitar o Museu Nadir Afonso, o
flaviense nascido em finais de 1920 e que faleceu poucos dias depois de
completar 93 anos. Foi arquiteto e filósofo, mas foi a pintura que o tornou
mais conhecido, estando agora toda a riquíssima obra bem exposta,
beneficiando da riqueza luz natural em ambiente ímpar criado por Siza
Vieira. Mas Chaves tem outros museus deveras interessantes e, por isso,
houve quem aproveitasse para descobrir o Museu da Região Flaviense, com
história que nem cem road-books conseguiriam descrever. E houve,
também, quem optasse por descobrir os vestígios medievais da Igreja
Matriz ou, os mais preguiçosos, dados a outras descobertas, pelas famosos
e originais Pastéis de Chaves Produto de pastelaria com Indicação
Geográfica Protegida (IGP) a nível nacional desde 2012, e pela União
Europeia desde 27 de maio de 2015