O desporto vive uma época de muitas incertezas. Os campeonatos distritais, as modalidades amadoras e o futebol de formação vão ser dos mais afetados por causa da pandemia.
Os custos que é preciso suportar para testar todos os elementos das equipas semana após semana são incomportáveis e de difícil logística. Os transportes e as estadias vão ter cuidados acrescidos.
A exemplo, o «Belenenses SAD já gastou 275 mil euros em testes». A confirmarem-se estes valores, vai ser insuportável para muitos clubes participarem nas competições na próxima época. Cada teste custa entre 80 e 100 euros, testar 25 a 30 elementos do plantel todos os fins-de-semana, dá pelo menos 10 mil euros por mês e, numa época de oito meses, são 80 mil por época. Em 96 equipas do Campeonato de Portugal são precisos [seriam] 7,6 milhões em testes. Além da questão financeira, há a impossibilidade de se manter os jogadores isolados. É impossível.
O destino, neste cenário de pandemia, está nas mãos da Direção‑Geral de Saúde e do Governo.
Tem havido algumas hesitações das autoridades de saúde pública no fornecimento de orientações sobre o regresso à atividade desportiva, com as consequências que tal acarreta na confiança dos dirigentes, mormente os municípios, que detêm uma parte relevante do parque desportivo nacional, em acolherem competições e conseguirem gerir as suas instalações para a prática desportiva.
Provavelmente, muitas competições, de profissionais e amadores, vão ser canceladas ou adiadas. Os esforços empreendidos por todas as partes interessadas devem ser bem-vindos e apoiados. Tirando as ligas do futebol profissional parece que o resto é só paisagem.
Os dirigentes têm de pautar-se por um rigor orçamental nunca visto. As famílias estão com dificuldades para pagarem prestações mensais, os jogos não devem poder ter público e as empresas estão com quebras de receitas enormes que vão ter reflexo na vida associativa. O planeamento da próxima época tem de conter muitos mais «planos» e os compromissos assumidos têm de ser cumpridos.
Este é um momento de promoção de políticas distritais de conjugação de esforços e partilha de espaços, onde as escolas, os clubes/associações e as autarquias formem um triângulo em que nenhuma das arestas pode renunciar às suas responsabilidades. Devem unir-se e criar sinergias.
Um dos maiores problemas que existe é que o Desporto ainda vai perder mais jovens atletas em diversas modalidades. O abandono precoce da prática desportiva já é elevado.
Sublinhando o papel essencial do desporto na situação atual e conforme recomendado pela Organização Mundial de Saúde, a prática regular do desporto e atividade física têm de ter presente e futuro. Além disso, o desporto também é uma atividade económica. O emprego no desporto teve em Portugal, entre 2011 e 2018, uma taxa de crescimento de 57,8%, passando de 23 883 para 37 680 postos de trabalho, segundo resultados apurados a partir do projeto European Sector Skills Alliance for Sport and Physical Activity (ESSA-Sport).
Vitor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética Desportiva