"Formiga Atómica" inicia em Tondela pesquisa para espetáculo sobre crise climática

A companhia de teatro Formiga Atómica iniciou em Tondela, no distrito de Viseu, um trabalho de pesquisa e reflexão sobre a crise climática que permitirá construir o seu novo espetáculo, intitulado “Terminal (O estado do mundo)”.

A crise climática e “as várias crises que neste momento assolam o mundo, partindo da questão da sustentabilidade e da relação com o planeta, o ambiente e a natureza”, serão abordadas neste espetáculo, avançou à agência Lusa Miguel Fragata, que dirige a companhia com Inês Barahona.

Em Tondela, têm estado a ser desenvolvidas várias atividades que se repetirão por 30 locais de Portugal e França.

“A ideia é passarmos por lugares muito diferentes, com vivências diferentes, para, através de um conjunto de atividades, podermos auscultar as pessoas sobre a sua vivência e relação com a crise climática”, explicou.

Segundo Miguel Fragata, em cada local, a Formiga Atómica terá um parceiro, “sempre de alguma forma ligado ao teatro e à cultura, mas nem todos eles com o mesmo tipo de características”, como teatros locais e nacionais, pequenos e grandes festivais e centros culturais.

Em 2024, “o espetáculo será apresentado em todos estes locais”, numa “espécie de devolução do trabalho que está agora a ser feito de recolha e de relação direta com as pessoas”, acrescentou.

“Ocupa a rádio” é uma das atividades do projeto que, em Tondela, se concretizou na Emissora das Beiras.

“Vamos ocupar as rádios locais, no sentido de termos uma programação em torno das questões da sustentabilidade, com a radialista Joana Guerra Tadeu”, referiu o encenador, acrescentando que “a ocupação tem diversas rubricas distintas, desde humor até momentos de telefonemas de ouvintes, passando por consultórios verdes de sustentabilidade”.

No âmbito da atividade “Teatro fora de formato”, quatro atores “fazem acontecer pequenos espetáculos completamente sem aviso, nos lugares mais inusitados e mais inesperados”, apanhando o público de surpresa.

Em Tondela, os atores estiveram em gabinetes da câmara, num cabeleireiro, no recinto da feira e num café.

“Os espetáculos são feitos por atores da Formiga Atómica, mas, sempre que haja o interesse, nós propomos uma passagem de testemunho e é o que está a acontecer aqui na ACERT [Associação Cultural e Recreativa de Tondela]”, contou Miguel Fragata.

Hoje, será apresentado na ACERT o resultado de uma outra atividade, chamada “Regresso ao futuro”, no formato de um pequeno documentário.

“Em cada local, são entrevistadas duas pessoas que tenham uma experiência muito particular com um lugar que já não existe, que se tenha transformado. Aqui em Tondela falámos com uma pessoa ligada à organização das antigas Festas da Mata e outra ligada a uma indústria de telhas, a fábrica da Naia”, referiu.

Miguel Fragata explicou que o objetivo é “uma espécie de confronto entre a memória muito pessoal de quem viveu aquele lugar e a realidade de hoje”.

“Improváveis de costas voltadas”, que são entrevistas filmadas com ativistas, empresários, estudiosos, ecologistas e cidadãos comuns em encontros “às cegas”, uma Biblioteca Verde Itinerante e um inquérito para averiguar a disponibilidade para mudar hábitos quotidianos de consumo, de mobilidade e de alimentação são outras atividades.

A Formiga Atómica gosta que os seus espetáculos sejam “uma resposta às inquietações do presente”, o que implica “ouvir muito as pessoas”, sejam “pessoas locais que têm uma experiência vivida do que se quer desenvolver num espetáculo ou especialistas académicos”, justificou Miguel Fragata.

Para o trabalho em curso, a companhia conta com a ajuda do sociólogo Rui Telmo Gomes (que elaborou o inquérito), da radialista Joana Guerra Tadeu (responsável pela ocupação das rádios locais), da dupla Juno (responsável pelos documentários) e de vários autores de livros da Biblioteca Verde Itinerante.

“O teatro é o nosso ponto de partida, a nossa área de trabalho na Formiga Atómica, mas é sempre o teatro na sua relação com o mundo”, sublinhou.

“Terminal (O estado do mundo)” encerrará um díptico sobre a crise climática, seguindo-se ao espetáculo “O estado do mundo (Quando acordas)”.

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