O Fontelo é um património histórico e botânico de todos os Viseenses, cuja história remonta ao século XII. Suspeita-se até que seja anterior devido ao facto de aí existirem variadas espécies autóctones portuguesas. Esta quinta, como era referida, possuía solos muitos férteis e chegou-se lá a cultivar vinho, milho, batatas, legumes e diversas árvores de fruto.
Durante oito séculos a Quinta do Fontelo pertenceu à Igreja mas, foi no séc. XVI que o Bispo D. Miguel da Silva contribuiu para o embelezamento e melhoramento do espaço com a construção de fontes, repuxos, grandes gaiolas, sendo mesmo considerada na época como uma das grandes quintas renascentistas portuguesas. O Bispo D. Gonçalo Pinheiro, a partir de meados do séc. XVI, foi morar, para onde é hoje o Solar do Vinho do Dão, mandando construir na mata a capela de S. Jerónimo. Este destacado membro da Igreja terminou ainda a construção do muro da Quinta e construiu o Arco do Cruzeiro que se encontra à entrada do Fontelo. Os seus sucessores construíram um hospício na Quinta do Fontelo, local que era frequentado fundamentalmente como local de repouso.
Após a implantação de República em 1910 a Igreja viu-se privada da sua personalidade jurídica e a maior parte dos seus bens foram expropriados. Entre eles o Paço e a Quinta do Fontelo. É aqui que pela primeira vez surge a Autarquia que fica responsável pela mata e pelo jardim do Paço para que estes fossem utilizados como espaços de recreio da cidade. Chegou mesmo a projetar-se transformar o Fontelo em estância termal. Em 1928, foi inaugurado o Estádio do Fontelo com capacidade para 25 mil pessoas.
Todas estas infraestruturas em harmonia com a frescura e a naturalidade da frondosa vegetação justificam a importância e beleza deste parque. O seu enorme valor histórico e ecológico tendo em conta a diversidade de espécies, e o facto de ter ali existirem árvores seculares, transformam-no num importante recurso para o desenvolvimento de iniciativas educativas.
Desde o furacão Leslie que os Viseenses se viram privados de usufruir na plenitude deste magnífico espaço. O parque está praticamente fechado à cidade. Estão-se a abater árvores seculares, abrindo espaço a espécies invasoras. Porquê e com que critério? Para quando a reabertura dos acessos interditados?
O Fontelo é um património de todos e é urgente devolvê-lo aos Viseenses.
Gonçalo Ginestal