Fogo técnico “é o caminho” para prevenir tendo em conta a desertificação

O adjunto de comando da Força Especial de Proteção Civil, Fábio Silva, defendeu que o fogo técnico, estratégico, “é o caminho” para alterar paisagens e prevenir incêndios, tendo em conta a desertificação do território.

“Um fogo estratégico tem de ser trabalhado com as comunidades locais, com os proprietários, com os decisores para que haja uma estratégia integrada e tem que ter economia de escala. (…) Esse é o caminho, na verdade não há outro”, sustentou Fábio Silva.

Em declarações à agência Lusa, este responsável do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), que liderou um estudo sobre incêndios em São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, lembrou que na década de 50 do século passado, o país era rural, virado para o setor primário.

“O ordenamento do território era outro. Quando povoávamos o território e lhe dávamos valor, as comunidades não permitiam incêndios. Agora, quando temos um território abandonado e temos esta condição, tudo mudou”, sublinhou.

Neste sentido, advogou que “a raiz do problema não é ambiental, é socioeconómica” e, por isso, considerou que podem apontar-se as alterações climáticas como uma das causas dos incêndios, mas essa não é, no seu entender, a principal causa.

“Pode falar no que quiser, não tem nada a ver com isso. Tem a ver com o ordenamento do território, que não está ajustado e a situação climática vai agravar o problema, [mas ela] não é o foco do problema”, esclareceu.

Para Fábio Silva, as queimas e queimadas não resolvem o problema do combustível e mato, já que “todos os anos crescem e todos os anos é preciso queimar”, nomeadamente as espécies invasivas.

“Fazer só fogo para prevenir é pouco rentável, mas, por exemplo, fazer fogo para alterar a espécie já pode ser interessante”, isto é, faz-se o fogo uma vez e altera-se a vegetação “para uma espécie resiliente”, explicitou.

A título de exemplo, referiu o carvalho, “uma espécie mais resiliente e húmida que o eucalipto, portanto, cria quebras e barreiras com mais humidade” e “a alteração da paisagem para uma mais resiliente”, ajudando a travar os incêndios.

“Em alguns casos, se a alteração da paisagem for conjugada com a dinâmica socioeconómica, é sustentável porque as comunidades são as únicas que podem manter este território, não são os agentes do Estado, principalmente num território em que 90% é privado”, sublinhou.

Depois de andar com a equipa, de cerca de 30 elementos, pelo concelho de São Pedro do Sul, Fábio Silva alertou, num seminário “interno e para reflexão” que se trata de um município, “a norte, com mato muito alto, que arde com muita intensidade e a uma grande velocidade”.

O vereador da Câmara Municipal de São Pedro do Sul responsável pela Proteção Civil, que assistiu ao seminário, admitiu à agência Lusa, no final da sessão, que “é o problema a que o município está atento e a trabalhar para ver a melhor forma de o eliminar”.

“Já foram feitos alguns fogos técnicos, em algumas zonas, porque foram identificadas áreas que deviam ser queimadas, para serem as zonas tampão que têm dois objetivos”, indicou António Casais.

Um deles é a de “criar zonas negras para os incêndios não progredirem e outro é para a criação de zonas de pastagem, já que na Serra de São Macário, por exemplo, há muita pastagem e as queimas são necessárias para a renovação do pasto”.

Sobre a desertificação dos territórios, o vereador lembrou que “não é fácil de resolver” o problema, e no que diz respeito a São Pedro do Sul, que tem cerca de 350 quilómetros quadrados de área, há “muita área de serra e florestal com aldeias muito dispersas”.

“Temos uma população muito envelhecida e há fatores que não são atrativos para fixar pessoas. O município tem feito um esforço enorme, mas não é fácil, nem é de um dia para o outro que se inverte esta desertificação”, salientou.

António Casais disse ainda que, “em algumas aldeias nas serras há poucos habitantes que cultivam os terrenos à volta das suas casas e os restantes ficam desertos” o que levou “a floresta a invadir os antigos terrenos agrícolas e não é economicamente rentável limparem” os terrenos.

“É uma solução muito complicada. A grande preocupação da Câmara é proteger as pessoas e os seus bens” e, depois, em criar essas zonas tampão”, com base nos mapas e outras informações disponíveis.

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