“Cruzeta” sobe ao palco com comunidade em freguesias de Viseu de baixa densidade

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A companhia Cem Palcos estreia esta sexta-feira “Cruzeta”, em Calde, freguesia onde esteve em residência artística e se envolveu com a comunidade que faz parte do espetáculo que nasceu de músicas tradicionais das Cantadeiras de Várzea de Calde.

O diretor artístico da Cem Palcos, Graeme Pulleyn, disse hoje em conferência de imprensa que a companhia está “em residência artística desde agosto e o espetáculo foi inspirado, criado e será estreado na próxima sexta-feira em Várzea de Calde”, no concelho de Viseu.

O espetáculo “Cruzeta” tem a colaboração de “artistas de renome nacional e da comunidade local, como as 13 mulheres do Grupo de Cantadeiras” de Várzea de Calde, que serviu de “inspiração” a Abel Neves que “trabalhou o texto com base numa música” das cantadeiras.

“A partir dessa canção, Abel Neves transforma numa nova história. A história de uma jovem fotógrafa brasileira que prometeu ao seu avô, dias antes da sua morte, de ir à sua aldeia cumprir uma promessa que não posso dizer”, adiantou Graeme Pulleyn.

Este responsável desvendou ainda que “a jovem se encontra na aldeia com as mulheres que têm uma grande paixão pelo linho e pelo canto”, tal como acontece em Várzea de Calde, e com isso “descobre muitas coisas do avô que não sabia”.

“Há muitos segredos por desvendar, há muitos mistérios e há coisas que ninguém lhe quer contar. E quem quiser saber mais tem de ir ver o espetáculo que foi criado em seis semanas, com trabalho quase diário”, acrescentou.

Graeme Pulleyn desvendou ainda que a peça “tem muito a ver com o passado, pela forma como se deixa morrer esse passado quando é preciso, a forma como as pessoas se despedem de quem desaparece para outra dimensão e a forma como o legado que fica é vivido”.

“Acima de tudo é uma celebração da vida e uma celebração pelo facto de estarmos juntos neste momento e estarmos todos a lutar pela nossa felicidade individual e coletiva”, finalizou o diretor artístico.

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Após a estreia, “Cruzeta” vai à Incubadora de Indústrias Criativas de Viseu, e depois segue às freguesias de Barreiros e Cepões, Côta, Ribafeita, Cavernães e São Pedro de France percorrendo assim “as seis freguesias de baixa densidade” do concelho de Viseu.

A vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viseu, instituição que apoia a Cem Palcos através do programa Viseu Cultura, felicitou a companhia pela “promoção da inclusão e do envelhecimento através da arte”.

“Não acho que a arte deva ser instrumentalizada, nem acho que deva haver uma espécie de paternalismo, mas a verdade é que através da criação e da fruição artística e da participação em projetos artísticos, a comunidade ganha”, destacou a autarca Leonor Barata.

A vereadora da Cultura sublinhou ainda a forma como o espetáculo “leva para a ribalta o feminino e as tradições ancestrais no feminino, porque na verdade a sabedoria sempre lá esteve, mas agora está a tornar-se visível e isso é importante”.

“Nos mecanismos das diversas discriminações o problema é a visibilidade e, portanto, dar-lhes voz, trazê-las para a cena com este pretexto, ou outros que apareçam, é importante, porque o feminino sempre lá esteve como grande força de suporte das comunidades”, destacou.

Os presidentes de junta de freguesia presentes na cerimónia elogiaram a companhia “por se lembrar de levar a arte para fora do centro urbano, porque antigamente toda a gente tinha de ir a Viseu e agora é a arte que vai às aldeias”.

O projeto da Cem Palcos, em 2023, vai aos municípios de Ílhavo (distrito de Aveiro), Seia (Guarda) e Ourém (Santarém) para realizar residências artísticas e levar a cena “a mesma estrutura do espetáculo, mas adaptado à cultura e comunidade local” de cada concelho.