Cristas ao ritmo das notícias de Tancos e contra as maiorias de esquerda

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A campanha do CDS para as legislativas foi feita ao ritmo dos quilómetros e das notícias do caso Tancos, que a líder, Assunção Cristas, dramatizou, e dos apelos ao voto no centro-direita, contra a “ameaça” das esquerdas.

Contra a maioria absoluta da esquerda e contra o voto útil no PSD, seu ex-parceiro de coligação, Assunção Cristas, líder do partido, tentou convencer os eleitores a “somar” no CDS, com a garantia, dada por diversas vezes, de que, em caso de maioria “do centro e da direita”, haverá um entendimento com o partido liderado por Rui Rio, apesar de as sondagens darem intenções de voto reduzidas.

“Deem-nos força”, “convença os amigos a ir votar”, foi pedindo nos contactos de rua durante as duas semanas de campanha, em que também visitou fábricas para mostrar um Portugal “pela positiva”, mas a que falta, foi argumentando, por vezes várias vezes ao dia, condições de competitividade para as empresas.

De Viana do Castelo a Faro, foi reclamando os impostos mais baixos – em seis anos, quer baixar o IRC para 12,5%, ao nível da Irlanda, e reduzir em 15% o IRS para todos – uma bandeira e prioridade dos centristas.

A maioria de esquerda, seja do PS sozinho seja uma maioria de dois terços com os restantes partidos, PCP, PEV e BE, foi igualmente dramatizada pela presidente dos centristas.

E logo no quinto dia de campanha oficial surgiu o tema que acabou por ser central na estratégia do CDS – a acusação do processo Tancos, do furto de material de guerra dos paióis do Exército que levou à demissão, em 2018, do ministro da Defesa Azeredo Lopes e à sua pronúncia para ir a julgamento.

O tom foi em crescendo. Primeiro, Cristas pediu explicações ao primeiro-ministro, depois defendeu que o Ministério Público deveria analisar as declarações feitas por António Costa e Azeredo Lopes, presumivelmente falsas, no parlamento, e pelo meio, num mercado em Lamego, Viseu, dramatizou para acusar o Governo do PS de “encobrir criminosos” e impedir “a justiça de funcionar” na alegada operação de encobrimento da recuperação dos material furtado.

Na noite do comício de Aveiro, em que recebeu o apoio, por vídeo, do ex-líder Paulo Portas, avisou o PS que não ia deixar de falar no caso Tancos, independentemente das mensagens que estava a receber a alertá-la para “o risco político” de explorar este processo.

Cristas optou, durante o período oficial de campanha, por apostar em fazer passar a caravana do partido por alguns dos “bastiões” do partido, como Aveiro, batizado como “capital do CDS”, mas também pelos círculos onde o partido, argumentou, está a disputar deputados à esquerda, ou os lugares podem estar em risco.

Exemplos são Viseu, onde se recandidata Helder Amaral, mas também Santarém (Patrícia Fonseca), e Cristas até fez mais de 500 quilómetros, de Arouca ao Algarve, para apoiar João Rebelo, o cabeça de lista por Faro.

Depois de uma campanha europeia intensa, em número de quilómetros e nalgum endurecimento por parte de Nuno Melo, que apresentava o CDS como “partido de direita”, Assunção Cristas moderou o discurso, exceto na parte de Tancos.

E no estilo de campanha também se notaram diferenças. O grupo da Juventude Popular era, agora, menos barulhento, com poucos cânticos e palavras de ordem, os jantares-comícios reduziram-se a três – Famalicão, Aveiro e Porto. O resultado foram imagens de menor mobilização em torno das ações de campanha.

Dias houve, por exemplo pelo interior do país, que a líder foi repetindo o discurso, mais pedagógico, explicando longamente as ideias do programa eleitoral, adaptando-o às plateias, insistindo na criação de um estatuto fiscal para essas regiões.

O resultado desta estratégia é que Assunção Cristas apareceu mais vezes, nos ecrãs das televisões, a visitar empresas ou em encontros em salas fechadas e menos em arruadas.

E se as pessoas não vão ao encontro dos políticos, são os líderes a ir onde estão as pessoas – feiras e festas, como aconteceu em Arouca, na festa das colheitas, no domingo, onde pousou e sorriu para umas dezenas de “selfies” e distribuiu umas centenas de beijos.