Manuel Vidigueira,
actor do conto meu
é filho do seu sangue
e da terra onde nasceu,
efebo da moral eterna,
fruto honrado colhido
pela cidade de Viseu.
Amarguras floreadas
à hora do ouro fado,
inquieto, avanços e recuos,
um sofrimento cansado,
bancos do Parque da Cidade
tronos modestos, pálidos,
de um ruído inflamado.
Triste, corvo muscular,
olhos co’a cor do vazio,
chora, romance de carne,
amor preso por um fio!
Onde está a feliz idade
dos passeios do Rossio?
Sofia Bento, Formosa senhorita,
Direita nos costumes, tão bela
Com caracóis de tangerina!
<<É ela, é ela, minha Cinderela!>>,
Chorava Manuel nas ruas
com nostalgia de caravela.
Frágil na Cava de Viriato,
insulto ao General Pastor,
deambulava entre o arvoredo.
<<Ai o tempo e o amor?
serão palácio imortal,
serão ruínas de langor?>>
Subiu, subiu embaixo,
clamando Misericórdia na Sé,
Deus já o amava,
antes da vida, antes da fé,
e o sol lá fora pousava
na pala do seu boné.
Praça D.Duarte, tropeço divino,
sobre os pães a fumegar
d’uma morenita beirã.
Glória dos Céus, eleita num olhar!
Lágrimas são orações
de um coração que sonha amar.
Francisco Paixão