A propósito do anúncio da Academia de Ciências de Lisboa, feito há menos de uma semana (a convite do Comité Nobel da Academia Sueca), a propor Agustina Bessa-Luís como possível candidata para receber o Prémio Nobel da Literatura de 2018, é oportuno rememorar, com orgulho, que a escritora escreveu, em 1959, “A Mãe de um Rio”, um livro que conta uma história fabulosa escrita depois de Agustina ter viajado e visitado Alvite, povoação do concelho de Moimenta da Beira que lhe inspirou a narração.
“Antigamente, sim, antigamente, a Terra tinha a forma quadrada, e um rio de fogo corria na superfície. Não havia aves nem plantas, as águas estavam nos ares como nevoeiro cor de ferro, e os ventos não as tinham distribuído ainda pelos quatro cantos agudos da Terra…”. Assim começa este conto de Agustina Bessa-Luís, que quatro décadas depois (1998) inspiraria também o cineasta e realizador Manoel de Oliveira para “Inquietude”, filme baseado, em parte, neste livro que conta a história de Fisalina, uma camponesa que um dia descobre que tem pontas dos dedos em ouro e que durante mil anos ela será a mãe de um rio…
Mas Agustina Bessa-Luís, que a crítica considera “a mais rebelde e indómita escritora da cultura portuguesa”, e “um dos expoentes da literatura portuguesa contemporânea” atualmente com 95 anos de idade (15 outubro de 1922), não escreveu só “A Mãe de um Rio”, gravou também todo o conto com a sua própria voz. O CD existe e está à venda no mercado livreiro.
“Inquietude”, de Manoel de Oliveira, foi também um filme muito premiado, destacando-se o “Grande Prémio das Américas” conquistado no Festival “Films du Monde de Montreal, Canada (1998); o “Prémio Life Achievement”, do Festival de Cinema de Jerusalém, Israel (1998); e o prémio “Melhor Filme”, dos Globos de Ouro da SIC (1999). Foi ainda nomeado oito vezes para grandes festivais em todo o mundo; Cannes, França; Munique, Alemanha; Toronto, Canada; Vancouver, Canada; São Paulo, Brasil; Chicago, USA; Wochen Wien, Áustria; e Mar del Prata, Argentina.