Câmara de Viseu acusa Ministério da Cultura de só se preocupar com Lisboa e Porto

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O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, lamentou hoje que o Ministério da Cultura não se preocupe com a produção cultural fora das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

“O Governo mostra, mais uma vez, que não tem qualquer consideração pelo país como um todo, que se concentra nas duas áreas metropolitanas”, disse o autarca social-democrata, aludindo aos resultados do Programa de Apoio a Projetos, nas áreas de Criação e Edição, da Direção-Geral das Artes (DGArtes).

Em declarações aos jornalistas no final da reunião de Câmara, Almeida Henriques criticou que 90% das candidaturas aprovadas estejam sediadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mostrando assim que coesão territorial é algo de que o Governo fala “com muita frequência, mas que depois se esquece de colocar em prática”.

“Foram apresentadas seis candidaturas do concelho de Viseu e nenhuma delas foi aprovada”, lamentou.

Acrítica (cruzamento disciplinar), Sweetfields (fotografia), Graeme Pulleyn (teatro), Gira Sol Azul (música), Ardemente (teatro) e Ritual de Domingo (teatro) são entidades do concelho de Viseu cujas candidaturas não foram aprovadas. Destas, apenas as primeiras duas não tinham sido consideradas elegíveis.

“Algo vai mal no reino do Ministério da Cultura, que provavelmente quis acudir àqueles que têm mais visibilidade pelo facto de virem para a rua protestar com as câmaras de televisão em cima, deixando de fora aqueles que têm menos capacidade para fazerem essa reivindicação”, considerou Almeida Henriques.

Na sua opinião, deveria ter sido reservada “uma parcela deste orçamento para ser aplicada nos territórios de mais baixa densidade e não por em pé de igualdade todos os territórios, deixando a esmagadora maioria do país fora deste apoio da DGArtes”.

Almeida Henriques questionou como estaria atualmente o universo da cultura em Viseu se a autarquia não desenvolvesse o programa Viseu Cultura e se não tivesse sido dada a possibilidade aos artistas de reprogramarem os espetáculos, devido à covid-19.

A Comissão Parlamentar de Cultura aprovou na quarta-feira requerimentos do PCP e do BE para audição urgente da ministra da Cultura, do sindicato dos artistas e de várias associações culturais, sobre os resultados deste programa.

Referindo que, em 506 candidaturas apresentadas, apenas 110 foram apoiadas, quando eram elegíveis 388, “seis dezenas com pontuação superior a 80%”, a deputada comunista Ana Mesquita questionou como é possível que “a maior parte dos candidatos fiquem de fora dos apoios”.

“Isto é um problema gravíssimo, com consequências muito grandes, que já começou a gerar demissões de encenadores, de diretores de companhias, sem condições para trabalhar”, afirmou a deputada, na Comissão de Cultura e Comunicação.

O Programa de Apoio a Projetos, nas áreas de Criação e Edição, garante este ano o financiamento de 110 candidaturas, num valor de cerca de 2,4 milhões de euros.