De 30 de agosto a 4 de setembro, o PLANALTO – Festival das Artes regressa à vila de Moimenta da Beira numa edição que propõe um manifesto para coabitar o presente e uma reflexão profunda e construtiva sobre como vamos querer ocupar os lugares do futuro.
Depois de um arranque muito positivo, em 2019, o festival de artes que acontece em plena beira alta, continua o seu percurso pela democratização e o acesso à cultura num território de baixa densidade, este ano com selo do Alto Patrocínio do Presidente da República.
São seis dias de uma programação intensa que se equilibra entre a difusão de artistas emergentes e a apresentação de alguns dos mais conceituados artistas nacionais nas áreas da Dança, do Teatro, da Música, do Cinema, das Artes Visuais e da Performance. Num programa que inclui ainda, workshops, conversas, aulas, caminhadas culturais, projetos de mediação cultural e de ecologia. “É um programa multidisciplinar que não se centra apenas numa lógica de apresentar uma programação artística e cultural. Queremos sentir o pulso de quem aqui vive, e deixar que essas pulsações alimentem o caminho com que vamos desenhar o futuro deste projeto”, conta Luís André Sá, diretor artístico e de programação.
Numa edição que reclama a iminência como um estado de movimento e uma condição de resistência para uma política cultural preocupada, interventiva, participada e que regenere a essência humana, coloca-se ênfase nas políticas culturais, sociais, ambientais, de identidade e igualdade para um novo mundo construído em conjunto. “Tanto queremos proporcionar a fruição e o acesso a uma programação cultural de elevada qualidade, como pensar em intervenções específicas, muitas vezes até de cariz social, em que sabemos que estamos a dar um contributo claro à comunidade e do qual o próprio festival poderá beneficiar muito no futuro. Isto porque, para nós, só faz sentido se for para fazer com as pessoas”, acrescenta.
Inserido numa região demograficamente banhada pelos rios Távora, Varosa e Paiva, o PLANALTO – Festival das Artes assume, em 2021, nova vida com a estreia de dois novos programas. O Neblina – programa de participação artística e de mediação cultural e o Programa de Arte Pública. Será através destes dois programas que o festival continuará a desenvolver pontes de diálogo com organismos locais, regionais, nacionais e internacionais, assim como, na criação de um roteiro a médio prazo que crie um museu a céu aberto em coabitação com a paisagem.
Ao todo, serão 31 propostas que se desenvolvem sobre uma curadoria em torno do encontro, da sustentabilidade e da paisagem. Um programa que envolve públicos e participantes dos 3 aos 89 anos, criando diálogos intergeracionais que ativem a participação de toda a comunidade.
Do programa desta edição constam nomes de peso como o da coreógrafa Tânia Carvalho, considerada como um dos nomes mais promissores da dança europeia, assim como, da dupla Sofia Dias & Vitor Roriz. O diretor artístico revela que “serão certamente dois momentos altos desta edição. Uma oportunidade única para ver ou rever “Síncopa”, um dos projetos mais vigorantes da carreira de Tânia Carvalho, coreografado e dançado pela própria”. O mesmo acontece com a Sofia Dias e o Vitor Roriz, em que desafiámos a dupla a remontar “Um gesto que não passa de uma ameaça”, um dos mais premiados e viajados projetos, que celebra este ano 10 anos da sua estreia mundial”. O primeiro acontece no arranque do festival, o segundo encerrará esta edição. A 31 de agosto, o bailarino Filipe Pereira apresenta “Arranjo Floral”, uma conferênciaperformance que nos leva por um biografia que vai da fé ao ateísmo, da virgindade ao despertar sexual. A 1 de setembro, Tiago Cadete, apresenta “Atlântico”, uma fábula carregada de mitos e monstros e de vestígios históricos passados sobre uma travessia turística entre Portugal e o Brasil, que foi outrora trânsito de corpos escravizados. A 2 de Setembro, no Largo do Outeiro, sobre a Serra de Leomil, a pianista Joana Gama apresenta um recital que percorrerá obras de Erik Satie, Hans Otte, entre outros. No dia seguinte, penúltimo dia do festival, a harpista espanhola Angélica Salvi fará reverberar as cordas da sua harpa num concerto intimista num local muito especial. Também na área da música, a cantautora brasileira Labaq, que atua na última tarde do festival, promete um concerto emocional e revitalizante. Da programação de cinema fazem parte os filmes “Ana e Maurizio”, de Catarina Mourão, a 31 agosto, “Amor Fati”, de Claúdia Varejão, a 2 setembro, e ainda, Tânia Carvalho, que se apresenta em dose dupla nesta sua primeira experiência no campo da realização com o seu filme “Um saco e uma pedra – peça de dança para ecrã”, ao início da última tarde de festival. Sobre os frescos da nave central da Biblioteca Municipal Aquilino Ribeiro, acontecem duas performances de duas artistas brasileiras. A 30 de agosto, Josefa Pereira apresenta “Hidebehind” e, a 3 de setembro, Bibi Dória, apresenta “É puro glacê”.
Um dos projetos mais especiais desta edição está a cargo do artista urbano mynameisnotSEM. Desafiado pelo festival a deixar de lado a parede e as latas de spray, o artista tem estado, desde 2020, a desenvolver ateliers de cerâmica e de pintura, numa parceria local com a Artenave Atelier, uma instituição de apoio à deficiência. Deste projeto resultará um painel de 880 azulejos, integralmente pintado pelos utentes desta instituição, e que integrará o Programa de Arte Pública do festival. Outra marca desta edição, é o protocolo estabelecido com a Companhia Nacional de Bailado. Isabel Galriça, solista da companhia, coordenará um workshop intensivo com 10 bailarinas locais promovendo o ensino profissional da dança, numa atividade que terá apresentação pública na manhã do último dia de festival. Também as Artes Visuais fazem parte desta programação. André Picardo, apresenta “Espuma”, uma exposição com curadoria do próprio aos seus trabalhos fotográficos que poderá ser vista numa galeria a céu aberto no Terreiro das Freiras. Bruno José Silva, artista visual, esteve em residência artística em Moimenta da Beira no passado mês de Maio, e da sua passagem pelo território nascerá uma das obras do novo Programa de Arte Pública. Paralelamente, estará patente uma mostra dos seus trabalhos na Galeria Municipal Luís Veiga Leitão. A street artist Mariana PTKS será responsável pela intervenção no ponto de encontro do festival.
Com o intuito de olhar a paisagem através da sua história e da arqueologia dos lugares, o festival convidou dois especialistas, em arqueologia e história, ambos naturais de Moimenta da Beira, a pensarem duas caminhadas culturais. O arqueólogo José Carlos Santos, levará os caminhantes por um percurso sobre ao maciço rochoso do Planalto da Nave, e o investigador do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra, Jaime Gouveia, leva-nos a caminhar pelos “Caminhos da tolerância e da exclusão: à descoberta do património islâmico-judaico de Leomil”. Há ainda um programa para os mais novos e famílias. Nos dias 1 e 2 de setembro, a dupla Guilherme Sousa & Pedro Azevedo, apresentam “HORTO, uma forma que vem do toque”, na Casa do Povo de Leomil. E, na última manhã do festival, a pianista Joana Gama apresenta “As árvores não têm pernas para andar”, a acontecer sobre a idílica zona de lazer do Vidual, em Leomil. Na área do pensamento, o programa tem previsto ainda uma série de conversas com personalidades de diferentes campos promovendo uma reflexão sobre temas como a paisagem, a urgência de políticas culturais ou a importância dos movimentos feministas. Delas participam pessoas ligadas à academia, à investigação, a secretarias de estado, às direções artísticas, à museologia, ao território e redes históricas, em conversas que prometem gerar um lugar para a reflexão do mundo global, plural e inclusivo que o festival quer reivindicar. Haverá aulas de Yoga e Chi Kung, ritmos dançantes com Nitronious, King Kami e Dj Maboku, conversas pós-espetáculo com habitantes locais a moderarem as conversas com os artistas, projetos de mediação cultural em parceria com associações locais que promovam a valorização das culturas tradicionais, do artesanato e da preservação da identidade cultural dos territórios.
Mas este programa vai muito além da programação de espetáculos, concertos ou exposições. Um dos projetos mais vibrantes será a semente lançada para uma marca concreta do PLANALTO no mundo. Em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), surge a Floresta Planalto. Uma plantação de 1000 árvores autóctones de 5 espécies em vias de extinção, entre elas, o Carvalho Negral, o Teixo, a Tramazeira, o Azevinho e a Azinheira. “É um projeto de cooperação e de mobilização de toda a sociedade que acontecerá, por razões técnicas, pós-festival, e que terá um impacto do ponto de vista da paisagem, da sustentabilidade, da ecologia, da preservação da floresta, dos recursos naturais, dos habitats e da regeneração do ar e dos solos”, esclarece o diretor.
Em 2021, continuam-se a ocupar lugares não-convencionais para a realização das atividades gerando uma relação orgânica com o território. No total, serão 14 os espaços ocupados, entre palcos improvisados, monumentos, praças, terreiros, prados, parques e espaços naturais que transbordem muito da essência desta edição. É também sobre a identidade dos lugares que se faz a identidade deste festival. “Evidenciamos e damos a viver essa riqueza patrimonial, seja ela natural ou edificada. Tanto estamos sobre o ambiente intimista do Convento da Nossa Sr.ª da Purificação, num concerto da harpista espanhola Angélica Salvi como, na manhã seguinte, ao raiar do sol, estamos no meio de um prado junto às encostas da Serra de Leomil numa aula de Chi Kung. Acreditamos muito que esta identidade poderá criar uma geografia sentimental em quem nos visita”. Uma programação que acontece de forma ativa nas freguesias de Moimenta da Beira e Leomil, tendo ativos projetos e parcerias na vila de Alvite e na aldeia de Peravelha.
Sobre o manifesto, “Coabitar o presente e desafiar o futuro”, o festival incita o público e os artistas a pensarem sobre as infinitas possibilidades que uma palavra pode ter como gesto ativo na ocupação que queremos fazer sobre os lugares do futuro. O diretor do festival partilha que “é urgente preencher esses lugares de cooperação, empatia, união, resiliência e resistência na construção de paisagens sonoras, visuais, sensitivas, históricas, humanas e geográficas que acolham a urgência da consciencialização e das transformações necessárias para uma nova casa-mundo”.
O PLANALTO – Festival das Artes, evento de características únicas na região onde se insere, olha as aldeias, as vilas, as serras e os rios como paisagens habitadas para o estímulo à criação e expansão de territórios comunitários que se foquem nas diversas dimensões do conhecimento e do pensamento sobre a universalidade e a condição humana. Sobre isso, diz-nos o seu diretor que “Estamos hoje, no Mundo, num ponto em que não podíamos nascer enquanto projeto para gerar reflexões e pensamento que não tivessem como finalidade uma ação prática. É preciso que cada Ser Humano se capacite de um gesto individual ativo tendo em conta o coletivo. E é isso mesmo que estamos a tentar estimular”.
Sobre as expectativas para esta edição, que acontecerá ainda em contexto pandémico, Luís André Sá, partilha que “Em 2019, o PLANALTO foi um grande momento da Cultura em Moimenta da Beira. Essa é uma boa memória que queremos manter e continuar, em 2021. Tenho a certeza que será uma bolsa de oxigénio para todo o público que estará connosco neste reencontro que queremos seguro e bonito”.
Esta edição leva a Moimenta da Beira mais de três dezenas de atividades com entrada livre, sujeita à lotação dos espaços e ao levantamento de bilhete ou inscrição prévia.
A programação completa pode ser consultada em www.planaltofestival.pt.