O Caos não é uma estreia no Escriba. Bisa, como letal ponta de lança, neste jogo estético, sensorial
e controverso que é a arte. Este grupo cultural viseense, Apolo de paredes, janelas e alma que toca
lira alternativa e ousada, procura abrilhantar a vida artística da nossa cidade desde 13 de maio 2017,
realidade expressa por José Cruzio, um dos membros fundadores: “O coletivo nasce quando um
grupo de amigos se reúne à procura de um espaço onde se trabalhe as diversas áreas artísticas. As
diferenças entre pessoas aproximam e um complementa o outro, foi assim que surgiram as várias
ideias e que se chegou a um nome para um possível espaço que ainda nem existia fisicamente, o
caos. A casa d’artes e ofícios foi “desenhada” numa conversa de amigos em mesa de café.”
As diferenças, caos das relações humanas, acabaram numa harmonia de vontades. A adolescente
existência do grupo, num assolo comum de rebeldia juvenil, tem-se primado pelo reconhecimento
artístico de nomes que oscilam entre a notoriedade e o anonimato esclarecido: “O Caos| casa
d’artes e ofícios realizou, desde a sua inauguração e até ao presente momento (27 de dezembro de
2019), dezoito exposições individuais de artistas de renome com larga projeção nacional e
internacional – António Olaio , Pedro Pascoinho, Valter Vinagre, ±MAISMENOS± , António
Barros, Ana Lúcia Pinto , João Fonte Santa , Jorge Santos , Patrícia Geraldes, Luísa Baeta, Isabel
Maria Dos, Rosi Avelar, Pedro Maia, Carlos Mensil, Martinha Maia, entre outros.” Mas a área de
intervenção cultural do Caos possui um crivo idealmente tentacular, que atrai para si actividades
como a fotografia, museologia, pintura, música e investigação, espécie de envelope rosa perfumado
enviado ao correio artístico. “Em suma, a base tem sido a oferta de exposições de artistas,
nacionais como da região, no âmbito de mostras de artistas consagrados como divulgação de
novos valores e na linha de uma filosofia como missão específica que refletem a identidade do
coletivo. A par e como complemento fundamental, evoca-se o Atelier, com dinamização de oficinas
como workshops promovidas quer pelos membros do coletivo como por artistas /formadores
convidados, cujo contributo se revele como uma mais-valia para a cidade.” – diz José Cruzio.
Como já escrevemos , o projecto do Caos foi iniciado em 2017, sediado no Largo São Teotónio, no
centro histórico de Viseu, protegido pela rudeza magnífica e muralhada do local. Existirão
contrastes relevantes desde a data inaugural e os passos intermédios do hoje? “As diferenças que
assinalamos, desde o inicio até à atualidade, assentaram no conhecimento mais profundo do
contexto regional e nacional; na perceção e compreensão assertiva da problemática a nível
regional e com as suas particularidades; na crescente profissionalização dos membros do coletivo
em diferentes práticas associadas quer à produção de exposições/eventos como de desenvolvimento
de projectos que, a nosso ver, suprem ou possam suprir aquilo que consideramos “lacunas”.
Sempre na perspetiva de oferta complementar como de enriquecimento da programação cultural
em geral.”
E Viseu, terra que inspirou Grão Vasco, fará hoje pactos de honra, fechados a cera fresca e perene,
com os novos portadores da voz criativa? Existe espaço para novos talentos? Paula Magalhães, que
com José Cruzio e Luís Calheiros completa o ramalhete do começo, mostra-se dividida: (…) A
relação tem sido ambivalente e diferenciada em vários níveis. (…) Falando num contexto de região
do interior, com várias lacunas, e fora dos eixos principais de circuito da arte contemporânea, toda
a atividade realizada tem dado mostras de visibilidade fora do Município como até mesmo a nível
internacional, conforme demonstra o número crescente de seguidores como de partilhas das infos e
álbuns publicados nas páginas, ao que acresce um aumento exponencial de novos visitantes a cada
evento e a acrescentar ao grupo de habitues do espaço e da sua programação. Apesar dos quase três
anos (a comemorar no presente ano 2020) e com a incessante atividade desenvolvida até agora
como num Largo curiosamente mais “marginalizado” turisticamente, o coletivo ainda não é
“reconhecido” como entidade cultural ou força viva da cidade pelo Município. (…).”
O futuro a Deus pertence, mas essa exclusividade não mirra as fantasias humanas. (…)
Continuaremos, na medida do possível, a desenvolver as atividades incluídas na missão do Caos|
casa d’artes e ofícios e, quando se proporcionar, ir sempre mais além. Ou seja, dar continuidade
aos projetos desenvolvidos na galeria; conseguir desenvolver novos projetos e parcerias com a
comunidade artística nacional e internacional. (…) Além disso, continuar com os projetos de
recolha como de investigação sobre antigos ofícios locais ou em vias de “extinção” – como o do
latoeiro, ainda em funcionamento no mesmo Largo –e promover novas reinterpretações
contemporâneas dos mesmos e dos seus produtos. Assim, recuperando e dinamizando ofícios
locais. São estes os planos futuros do coletivo. (…).
Francisco Paixão
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