Por Humberto Pinho da Silva
Foram tempos difíceis. Casara e tinha um filho, a sustentar – o Henrique. A mulher, na sua opinião, tinha a sensibilidade da mãe, e a coragem e determinação do pai.
O pai deixou-lhe dividas, que teve que pagar. Ficou ainda mais pobre do que era. Terminado o curso, advogou, mas sem sucesso.
Concorreu, então, a dois concursos públicos. Receava não ser aceite, porque não tinha ” padrinho”.
Inesperadamente recebeu carta de Camilo Castelo Branco. Dizia a missiva: lera nos jornais que concorrera a concurso, e resolveu escrever ao Ministro, para que fosse preferido.
Camilo fê-lo por amizade ou aliado político? Não sei responder, tanto mais que o conhecia…só de nome, e Trindade Coelho, não era politico.
Foi colocado para: “delegado Procurador de Sabugal”. Dai passou para Portalegre, onde granjeou inimigos políticos.
Ganhava, então, 11 mil reis. Muito pouco. Chegou a passar fome.
Entretanto chamaram-no a Lisboa, para oferecerem o lugar de deputado, por Portalegre; cidade onde fundou: “Gazeta de Portalegre” e “Correio de Portalegre”.
Não aceitou. Para o convencer, prometeram dar-lhe o cargo de juiz, por “mérito”. Mas não era – a seu pensar, – justo, receber esse favor.
Trindade Coelho nunca se filiou num partido político; preferia ser independente.
Sobre o valor das obras do escritor, nada direi. Não sou crítico literário, nem me considero competente para isso.
Adiantarei, porém, que na sua terra, só conseguiu, numas férias, escrever os contos: “Sultão” e ” Idílio Rústico). Só escrevia na cidade, espicaçado pela saudade.
A propósito, recordo que meu pai, quando ia passar as férias à aldeia de minha mãe, levava pequena livraria de campanha, mas não escrevia nada, nem nunca terminou a leitura de um livro!
Escreveu Eça, em: “Cidade e as Serras”: “Toda a intelectualidade nos campos se esteriliza, e só resta a bestialidade”
Assim termino, a triste infância de uma grande escritor. Espero que gostassem, se tiveram a pachorra de me lerem.
O texto –, escrito por palavras minhas, – foi baseado na autobiografia (1902) de Trindade Coelho, publicada, em 1910. Obra esgotadíssima, oferecida e autografada por D. Maria Christina Trindade Coelho, nora do escritor.
( Fim)