A importância do Capitão de Equipa

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No desporto atual tem-se discutido muito o perfil dos treinadores, dirigentes, árbitros
e atletas. No entanto, tem-se esquecido o cargo do capitão de equipa.
Capitão de equipa é uma função muito importante e a escolha deve ser bastante
criteriosa e cuidada. Deverá assentar sobre comportamentos sociais e valores, não sendo o
rendimento desportivo uma característica essencial para o cargo nos desportos coletivos.
Na iniciação ao desporto, até determinada idade, a braçadeira de capitão deve rodar
entre todos os atletas, para que todos aprendam a dialogar com os árbitros, a saberem
escolher o lado do campo ou a bola, a sentirem-se iguais aos colegas, a fazer o «grito», etc.
Esta estratégia permite que todos ganhem experiência e sintam a responsabilidade do cargo. A
utilização da braçadeira em jogo, nestes escalões, não significa que a equipa não tenha
capitães definidos.
Ser capitão não é apenas uma formalidade. Os capitães são atletas que lideram a
equipa e que, para além de merecerem a confiança do treinador, são frequentemente
consultados sobres os principais assuntos que envolvem o dia-a-dia da equipa.
A questão da escolha do(s) atleta(s) que exercem as funções de capitão de equipa é de
vital importância no sucesso desportivo. No desporto sénior, muitas vezes o capitão é
escolhido, ainda, segundo algumas tradições: o jogador com mais idade, o mais antigo, o mais
internacional, o «génio», etc. Todas estas opções são aceitáveis, desde que se cumpra o
principal objetivo – o sucesso da equipa – no qual o capitão só por si tem de constituir uma
mais-valia. É aconselhável que seja a equipa técnica a escolher o capitão, uma vez que esta
tem a responsabilidade da gestão da equipa e é conhecedora das características pessoais e em
competição de cada elemento do grupo.
A função de capitão de equipa é cada vez mais relevante. Hoje existe um grupo de
capitães que devem ter incutidos e incutir valores desportivos, éticos e de conhecimento do
clube que permitam aos atletas desfrutarem da modalidade e serem conhecedores de todo o
contexto que os rodeia. A integração de novos atletas passa muito por esta função que os
capitães devem ter. No alto rendimento é muito visível o papel do capitão e o seu exemplo. Ele
é o primeiro a ter de saber ser e estar no desporto. É o exemplo para todos os colegas e o elo
de ligação entre todos, bem como entre a equipa e os demais elementos do grupo de trabalho.
Não pode nunca ser um portavoz do fanatismo dos adeptos ou destilar ódio ao adversário,
correndo o risco de se autodestruir enquanto atleta e como pessoa.
O seu carácter assume também aqui um papel fulcral. É no seu íntimo que começa o
verdadeiro capitão. Tem de ser uma personalidade de grande atitude positiva. Que dirige e
lidera com naturalidade. Não se ensina a ser capitão. Aprende-se a ser alicerçado em valores
intrínsecos e de personalidade. Um capitão de equipa é um líder. Eticamente exemplar.
São muitas as funções de capitão de equipa. Mas é em competição que é mais visível o
exercício do cargo e hoje, com a falta de público nos jogos e as imagens mais centradas no
terreno do jogo e no pósjogo, constata-se que as escolhas nem sempre são as melhores.

Este é mais um assunto em que o futebol tem muito a aprender com as outras
modalidades.
Carlos Puyol é provavelmente um dos maiores exemplos do que é ser capitão. As
imagens da sua atuação durante os jogos deviam ser obrigatória e repetidamente vistas por
todos os atletas da formação. Para que percebam que, não sendo o «génio» do Barcelona, era
o líder a quem todos respeitavam por também ser respeitador e saber-se fazer respeitar.
João Basto (Académico de Viseu) e Eduardito (Sport Viseu e Benfica) são as minhas
referências de capitão de equipa.

Vitor Santos
Embaixador do PNED