POPULISMOS (3)

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Para terminar a serie de artigos sobre o fenómeno do populismo, que iniciamos antes das eleições autárquicas, pretendíamos ter feito um artigo a publicar antes de 01 de Outubro de 2017. Não há como dizer de outra forma: fomos ultrapassados pelos acontecimentos e pelas obrigações profissionais.
Mas seremos fieis à nossa palavra e abordaremos, agora, os populismos que restam.
De um lado, para infelicidade de muitos, vejamos o exemplo do (des)governo nacional. Cavalgando a onda de uma suposta vaga de “terrorismo ambiental”, ignorando as próprias falhas e as lacunas que imprimiram no sistema de protecção civil, com a dança dos boys do costume e acima de tudo, demonstrando desprezo pelos cidadãos portugueses, os nossos governantes passam pelo assunto dos incêndios florestais, como cães por vinha vindimada (perdoe-se o recurso ao ditado popular). Ou então, como crentes de uma Santa Barbara a quem rezam apenas quando troveja. Fazer uma profunda reforma na politica agraria, implementando medidas de rejuvenescimento e fixação de população no interior? Apostar em políticas de aumento de produtividade e apoio aos agricultores? Repensar a estrutura da protecção civil, profissionaliza-la, dar-lhe mais meios técnicos e humanos? Apostar mais na prevenção, do que no combate? Implementar medidas de apoio à silvicultura preventiva? Repensar a reflorestação do país? Diz o povo: “tá quieto que dá trabalho”. Resultado mais de 100 mortos (isto só pensando em Pedrogão Grande e o ultimo fim-de-semana).
A nós, resta-nos a consolação de termos demasiados heróis anónimos, nos nossos bombeiros, sapadores, militares da GNR, elementos de juntas de freguesia ou simples populares. Bem-haja a todos pelo esforço e generosidade.
Terminamos com os muitos candidatos às autarquias locais, deste nosso País. Alguns deles derrotados na noite eleitoral de 1 de Outubro. De pouco lhes valeu a política da repressão, da asfixia democrática, da intimidação, da falsa condição de plenipotenciários da atribuição de pensões e outros subsídios. Mas outros houve que foram eleitos. Mesmo depois de condenados por corrupção, de terem praticas muito pouco claras e ainda menos éticas. Ou depois de fazer o que há muito se condena – prometer o irrealizável. Que dizer? É próprio das democracias haver fenómenos assim. Devemos preocuparmo-nos? Claro que sim. Embora os sinais que vão surgindo, nos digam que cada vez menos, pois começamos a estar todos bem mais esclarecidos.

Carlos Bianchi
Advogado
Publicado in entre-o-montemuro-e-o-paiva.blogspot.pt