Catalunha

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Todos os portugueses minimamente conhecedores de História sabem que Portugal independente deve muito à Catalunha. Com efeito, em 1640, foi Madrid que ao exigir à nobreza portuguesa que fosse combater a insurreição da Catalunha que se tinha insurgido contra o seu centralismo, criou as condições para que quatro dezenas de nobres promovessem a revolta de 1 de Dezembro para recuperar a independência nacional. Pouco antes tinha havido o rebelião popular do Manuelzinho no Alentejo que o poder espanhol dominou, se não com a colaboração, pelo menos com a passividade da nobreza portuguesa. Mas as guerras eram, naquele tempo, bastante lentas e dependiam numa larga medida dos meios financeiros dos estados e a Espanha, depois de num primeiro período tentar recuperar Portugal sem grandes movimentações de tropas, optou por dar prioridade à Catalunha apoiada pela França. E só depois de ter assinada com a França, em 1659, o Tratado de Paz dos Pirineus, se virou decididamente contra Portugal,

Foi assim que as principais batalhas e os momentos em que Portugal esteve em grave perigo de perder de novo a independência foram 2O anos depois do 1º de Dezembro de 1640.

E sobre o período intermedio vale a pena ver o belo filme “O Processo do Rei”, produção luso-francesa feita com meios mínimos. O rei português era o Dom Afonso VI, casado com uma princesa francesa e parece que o seu casamento não se teria consumado. Mas ele tinha um bom primeiro Ministro, o conde de Castelo Melhor, que se prepararia para fazer a Paz com a Espanha. O filme começa então com o diálogo num coche entre um jesuíta vindo de França que explica a um outro que estava em Portugal que a França queria fazer a Paz com a Espanha e para isso era preciso que a Espanha continuasse em guerra com Portugal. Para isso contavam com a rainha que depois de anulado o seu casamento com o rei por um tribunal eclesiástico, como viria a acontecer, casaria com o irmão, o novo rei Dom Pedro II, que demitiria o conde de Castelo Melhor e nomearia um outro Primeiro Ministro que continuaria a guerra com Espanha.

Vale também a pena ler o sermão proferido no Brasil, em São Salvador da Bahia, em 1640, (antes do 1 de Dezembro), pelo Padre António Vieira, editado esta semana numa pequena brochura pelo Correio da Manhã, com o título “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas da Portugal contra as da Holanda”. O curioso neste sermão de 1640 é que nele ainda fala da luta conjunta dos portugueses aliados dos espanhois contra os holandeses.

E para os brasileiros que valham a ler este texto é camada a atenção para belo painel de azulejos do primeiro andar do Palácio Galveias em Lisboa que relata a actuação dos portugueses do Maranhão que a pedido do rei de Espanha foram defender o Amazonas, que segundo o tratado de Tordesilhas era todo espanhol.

O padre António Vieira, além dos sermões e da defesa dos índios, esteve empenhado na complicada acção diplomática de conseguir na Europa apoio da Holanda à recém independência de Portugal e, ao mesmo tempo, expulsar os holandeses do Brasil e de Angola.

Depois, sucederam muita coisas e uma, verdadeiramente surpreendente, foi Portugal, na passagem do século XVII para o século XVIII, ter passado da situação de um estado muito pobre e numa situação muito difícil, para um estado durante um período muito rico (devido ao oiro do Brasil) mas com um poder militar muito diminuto
Enquanto a Europa se desenvolvia e criava riqueza, o desejo da nossa diplomacia e da nossa política foi, fundamentalmente, o da manutenção de direitos antigos que a Europa, depois de se apoder de muitos, transitoriamente quase ignorou durante um largo período em que digeriu os de de que se tinha apoderado. Assim nos transformamos num país atrasado e dependente até meados do século passado .
O portugueses vibraram com a guerra de Espanha que os deixou isolados no extremo da Europa.
Mas qual é agora a nossa relação com a Catalunha ? A Catalunha é, para nós, a província mais afastada de Espanha, a que reconhecemos alguns particulares méritos, mas que no fundo não distinguíamos das outras. Habituados durante séculos a respeitar a Espanha e a sua integridade. Territorial, agradou-nos a influência que teve o nosso 25 de Abril no transição da ditadura de Franco para um estado estado democrático, mais avançado, diga-se, que muitos outros da Europa.
Mas não é de repente que podemos considerar democráticas todas as reivindicações que vemos os catalães fazerem na televisão. Precisamos de ver a sequência e ter tempo para reflectir e nos habituar.

Uma das frases mais conhecidas da História portuguesa foi a que teria sido proferida por Dona Luisa de Gosmão para convencer o seu marido, o Duque de Bragança, que hesitava, a ser o novo rei português: “Mais vale ser rainha um dia que duquesa toda a vida”. Mas ela era espanhola das andalzsia.
Quando o Duque de Olivais, transmitiu a Filipe IV a noticia do rebelião português disse-lhe: “Desejo felicita-lo. Já tem motivo paea confiscar os bens da Casa de Bragança que é a mais rica de Portugal.
Na cidade de Castelo Branco há uma escadaria ladeada por estatuas de todos os reis de Potugal. Nela os três Filipes, também reis de Espanha, têm estatuas mais pequenas. Hoje, pensamos que até os turistas espanhois poderão olhar com simpatia e mesmo algum agrado esta curiosidade turística. Pela nossa parte, pensamos que Filipe de Espanha e primeiro de Portugal, filho de uma portuguesa, que visitou Portugal que convocou cortes logo em 1581 e cumpriu tudo que nelas prometeu, foi um grande rei português.
(Continua)
António Brotas